[Resenha] O Gato Preto (Conto)

O Gato Preto (Conto)

Autor: Edgar Allan Poe

Editora: Darkside

#12mesesdepoe

O Gato Preto foi publicado a primeira vez em uma edição do Saturday Evening Post em Agosto de 1843. É um conto bem curtinho que revela aspectos sombrios e perturbantes da natureza humana, características marcantes e presentes nas obras de Poe. A história é narrada em primeira pessoa por um narrador-personagem, em forma de memória, onde o protagonista (sem nome) nos revela acontecimentos recentes de sua vida. Contudo, a veracidade dos fatos narrados é questionável, até porque o próprio narrador no início do conto afirma que seria louco se esperasse que o leitor desse crédito a sua história, o que implica incertezas a respeito de sua sanidade.

“(...) todos os gatos pretos eram bruxas disfarçadas. ”- pg. 86

Em seu relato, o narrador expõe todos os seus crimes ao leitor, apresenta sua história desde quando era um homem bondoso e dócil até se tornar um homem frio e cruel. No início do conto ele nos revela como era sua vida: Um homem feliz, casado e com um enorme carinho e devoção aos animais. Em sua casa, ele e sua esposa cuidavam de um cão, pássaros, um peixe-dourado, coelhos, um mico e um gato. Este último, denominado Plutão, era um animal grande, belo e inteligente, com a pelagem negra. De todos os animais, Plutão era o preferido do narrador, entretanto, com o passar dos anos, o protagonista começa a sofrer algumas mudanças de temperamento, - devido ao alcoolismo- e se torna uma pessoa irritada, perturbada e indiferente aos sentimentos dos outros.

Poe aborda com maestria os terrores ocultos da alma humana ao apresentar um narrador transtornado que se encontra diante de dualidades – em um momento aprecia a perversidade e os crimes que cometeu (principalmente as atrocidades cometidas contra seu gato) em outro mergulha em sentimentos de culpa, remorso e até mesmo vergonha, o que o leva a ficar mais irritado e consequentemente mais violento.

“(...) com a mesma certeza que creio em minha alma, acredito que a perversidade seja um dos impulsos primitivos do coração humano – uma de suas faculdades primárias indivisíveis, ou sentimentos, que fornecem direção ao caráter do Homem. ” – pg. 88

O conto apresenta diversos simbolismos e análises referentes ao gato. As superstições relacionadas ao gato preto é uma delas, inclusive essa ideia é expressada no conto pela esposa do narrador, que afirma que todos os gatos são bruxas disfarçadas. Na mitologia escocesa e irlandesa, há um gato preto com uma mancha branca no peito denominado Cat Sith, que segundo a lenda era uma bruxa que poderia se disfarçar em gato nove vezes. E outro aspecto considerável é o nome do gato, Plutão, que faz referência ao deus romano correspondente ao deus Hades na mitologia grega, ou seja, deus dos mortos.

O desfecho do conto (que não irei mencionar) é fascinante e surpreendente. A história apresenta alguns aspectos semelhantes a outro conto do autor denominado O Coração Delator (também presente nessa edição da Darkside), onde o remorso envolve o protagonista a tal ponto que acaba conduzindo-o à sua ruína. Definitivamente, é um dos contos mais sombrios do autor, que conduz o leitor a acompanhar de perto uma mente doente, perturbada e psicótica. Garanto que não é difícil desenvolver uma forte antipatia pelo protagonista e, ao mesmo tempo, criar uma enorme expectativa de vê-lo pagar pelas atrocidades que cometeu.

O conto já teve diversas adaptações cinematográficas. Uma das mais fiéis é a trilogia "Tales Of Terror" (Muralhas do Pavor) de 1962 dirigido por Roger Corman. Além dos filmes, a série "Masters of Horror" também se baseou no conto em um de seus episódios.

Eu já havia comentado sobre esse conto aqui no blog, porém gostaria que ele tivesse um cantinho só dele. O Gato Preto é meu conto (até então) favorito do autor e apesar de ser curto, é uma história que te prende do início ao fim. É macabro e brutal, mas acima de tudo, espetacular. Super recomendo!

Eloise G.F