[Resenha] Paixão ao Entardecer



Paixão ao Entardecer – Os Hathaways 5
Autora: Lisa Kleypas
Editora: Arqueiro
272 páginas

*Não há spoilers do livro anterior*resenha sem spoilers*

Neste último volume da série vemos finalmente a história da caçula Beatrix. Essa foi a personagem que mais me chamou atenção ao longo da leitura da série e não é para menos. Beatrix é apaixonada por animais e faz de tudo para salvá-los ou resgatá-los, os mais mencionados foram o furão Dodger e o porco espinho Medusa, mas ela já teve aventuras tanto com macaco como também elefante. A família Hathaway é, de fato, excêntrica, mas Beatrix está no topo da lista das excentricidades. Ela é aquela jovem que é ao mesmo tempo graciosa e moleca, que conversa sobre qualquer coisa, ela não é como as outras damas de sua idade que demonstra fragilidade e conversam sobre assuntos triviais, Beatrix fala sobre política, astronomia, história, fala o que vem na telha e expõe sua opinião, é uma jovem inteligente que busca sempre ser ela mesma sem se importar com que os outros pensam.

“Sei tudo sobre viver com lunáticos. Sou uma Hathaway.” 


É importante ressaltar que a autora não mudou a essência da personagem ao longo dos volumes. É claro que Beatrix amadurece, porém não deixa de ser quem ela é. Acredito também que é a personagem mais mencionada em todos os livros, houveram inúmeras passagens que a retratavam, apontando seu jeito único de ser. 

“'O problema' vinha acontecendo esporadicamente nos últimos quatro anos, desde a morte da mãe. De vez em quando, Beatrix tinha um impulso irresistível de roubar alguma coisa, fosse de uma loja ou da casa de alguém.” – Desejo à Meia-Noite

“Aos 16 anos, a caçula dos Hathaways estava naquela idade vulnerável entre a infância e a vida adulta. Uma malandrinha de natureza doce, tão curiosa quanto os inúmeros animais de estimação que colecionava. [...] Ele duvidava de que concluir os estudos surtisse resultados positivos para Beatrix, uma jovem de espírito livre.” – Sedução ao Amanhecer

“Ela era uma formidável menina de 19 anos, não era dotada de uma beleza clássica como a de Win e de Poppy, mas tinha uma graça doce e vivaz, além de um apelo cativante que encantava a todos. O mais irresistível de tudo é que ela tinha um sorriso que surgia do nada, que refletia uma irreverência travessa. Beatrix era radiante, desprendida e tão curiosa quanto Dodger, seu furão de estimação.” Casamento Hathaway

“– Encalhadas? – Beatrix sugeriu. A coruja, com a cara redonda aparentando ligeira preocupação, olhava com impaciência para Beatrix e Amelia. Amelia fez cara feia. – Detesto essa palavra. Como se garotas solteiras fossem livros que ninguém quer ler.” Casamento Hathaway

“[...] conheci inúmeros homens. E todos eles são muito sem graça e sem vida, e a maior parte passa os dias à toa, esperando alguém morrer para que possa herdar seus bens. Eles se orgulham de ser sofisticados, o que significa que dizem o contrário do que realmente diriam, e então você deve elogiá-los por serem inteligentes. Rá. Pelo menos os machos de coruja levam comida quando vão cortejar as fêmeas.” Casamento Hathaway


“– Mas não consigo deixar de ter esperanças de encontrar alguém que veja o mundo como eu.” Casamento Hathaway

“Essas regras são muito tolas e sem sentido. Modos, espartilho, fofoca, aspargo, garfos… e, ó céus, conversas educadas. Se não posso falar sobre algo real, prefiro nem falar.” Casamento Hathaway

“Ela queria ser amada… ser arrebatada, desafiada, surpreendida.”- Casamento Hathaway

 "– Não entendo por que as pessoas precisam se casar – manifestou-se Beatrix. – Não havia ninguém para casar Adão e Eva, havia? Eles viveram juntos naturalmente. Por que nós temos que nos incomodar com um casamento, se eles não pensaram nisso?” – Tentação ao Pôr do Sol

“– Beatrix e seus animais.
Eles trocaram um sorriso.
– Muitas pessoas conversam com seus animais de estimação – disse Catherine.
– Sim, mas muito poucas ouvem as respostas.” - Manhã de Núpcias

Os membros da família Hathaway, mesmo sendo fora dos padrões, se questionavam se a jovem encontraria um par que realmente a compreenderia, até porque a própria Beatrix não havia encontrado ninguém que aquecesse seu coração nas últimas temporadas. E nesse volume, Kleypas nos mostra que todos nós podemos ter nossa cara metade, até mesmo os mais excêntricos, e para surpresa de todos o mocinho que apareceria no caminho da jovem seria um soldado.

“Quanto a Beatrix, havia dúvidas se ela chegaria a se casar. Era uma moça não de todo civilizada que passava a maior parte do tempo ao ar livre, cavalgando ou passeando pelos bosques, pântanos e prados de Hampshire. Preferia a companhia dos animais à das pessoas e tinha o hábito de recolher criaturas órfãs e feridas que necessitavam de cuidados.”


“[...] eu mesma não consigo me comportar adequadamente na sociedade refinada. Sempre achei que há uma boa dose de falsidade envolvida no refinamento.” 

Enquanto o capitão Christopher Phelan está na frente de batalha ele decide se corresponder com a formosa e superficial Prudence, uma jovem dama muito amiga de Beatrix. Ao perceber que a amiga não tem nenhum interesse em responder o capitão, Beatrix resolve dar apoio a ele e começa a lhe escrever cartas assinadas em nome da amiga. Na verdade,  Beatrix não gosta muito de Christopher pois o acha o homem mais arrogante do mundo, afinal ela escutou uma vez ele a chamar de estranha e dizer que a jovem era mais adequada aos estábulos do que aos salões londrinos (isso me lembrou muito Orgulho e Preconceito, quando Darcy fala de Lizzie logo no início e ela fica chateada, eu simplesmente adoro quando esses mocinhos pagam com a língua). Acredito que a primeira intenção de Beatrix para com Phelan foi de ajudá-lo a superar as tristezas que ele vivenciava na guerra, mal sabia ela que essas correspondências e as palavras trocadas se tornariam um sentimento puro, verdadeiro e profundo entre eles.

“O amor perdoa tudo. Você não precisa nem pedir.”


“-É óbvio que Beatrix está fascinada pelo capitão Phelan.
-Ela sempre se sente atraída por criaturas feridas.” 

Durante a leitura eu percebi uma coisa: tenho certo fascínio por romances onde o casal se corresponde por cartas, tanto é que quando acaba a correspondência fico até triste, mas a história tem que continuar né hahaha. É engraçado que tive os mesmos sentimentos tanto no livro da Eloise da série Os Bridgertons como também neste volume de Os Hathaways que trata o romance de Beatrix. Outro ponto interessante é que o segundo nome de Beatrix é Heloise. Durante a leitura a própria Beatrix explica que o nome Heloise faz referência a freira escritora Heloísa de Argenteuil ou Heloísa de Paráclito conhecida por seu amor e correspondências com o filósofo Pedro Abelardo. Fico pensando se Quinn também escolheu o nome da Eloise ou inseriu cartas em sua história devido a isso, mas não achei nada em seu site que comprove essa teoria.

“Aristóteles ensinou que as estrelas são feitas de uma matéria diferente dos quatro elementos da terra – uma quintessência – que, por acaso, é também a mesma matéria de que é feita a psique humana. E é por isso que o espírito do homem se conecta com as estrelas. Talvez essa não seja uma visão muito científica, mas gosto da ideia de que a luz de uma pequena estrela brilha dentro de cada um de nós. Meus pensamentos sobre você são como a minha constelação pessoal. Você está distante, meu caríssimo amigo, mas não mais distante do que essas estrelas gravadas em minha alma.”


A autora sempre torna seus personagens bem humanos e plausíveis, Phelan passou por momentos de imenso sofrimento e se tornou um homem diferente, mais sombrio e tem dificuldade de afastar os fantasmas e traumas da guerra. Acho interessante ela passar essa realidade desse personagem, mostrar que nem sempre é fácil superar, se perdoar, mas ao mesmo tempo mostrar que o amor realmente pode curar, nem que seja aos poucos, mas uma hora se chega lá. A narrativa de Lisa Kleypas é excepcional e envolvente, a autora não se preocupa apenas em desenvolver um romance arrebatador, mas também de construir um ambiente verdadeiro baseado em situações e acontecimentos que refletem a época, essa é para mim, sua característica mais marcante.

“Estavam todos eles tendo que lidar com um mundo que mudava rapidamente, encarando desafios para os quais nenhum deles fora preparado. Tudo na atual sociedade estava sendo testado, derrubado, a antiga hierarquia ruía, e o poder estava passando para mãos desconhecidas. Um homem poderia se deixar afundar na irrelevância, ou dar um passo à frente para moldar a nova era que se apresentava diante deles.”

“– Já houve dezenas de vezes no passado em que eu deveria ter gostado de algum cavalheiro em particular. Ocasiões convenientes, apropriadas, fáceis. Mas não, quis esperar por alguém especial. Alguém que faria meu coração parecer ter sido pisoteado por elefantes, jogado no rio Amazonas e devorado por piranhas.”


“– Venho de uma família de pessoas cheias de defeitos, que se casam com outras pessoas cheias de defeitos. Todo mundo se arrisca quando ama.
– Eu a amo demais para arriscar sua segurança.
– Ame-me ainda mais então – implorou ela. – O bastante para se casar
comigo sem se importar com os obstáculos.”

“– Quero você, e você diz que me quer, e a única coisa que está se colocando em nosso caminho é você.”

“Beatrix escutava os sons da vida ao ar livre com o mesmo prazer que outras pessoas demonstravam ao ouvir Mozart. Aquilo tudo era como uma sinfonia para ela... o céu, a água, a terra. Beatrix via um novo mundo a cada dia, vivendo inteiramente no presente, sempre atenta a tudo ao seu redor.” 

Esse foi outro romance da série que favoritei. Me diverti muito com a história e finalizei a série com chave de ouro. Não imaginava que me apaixonaria tanto pelos Hathaways, é uma família que todos deveriam conhecer para sorrir, se emocionar, suspirar e gargalhar. Kleypas constrói sempre um romance lindo, sensual e divertido. Super recomendo!



Eloise G.F

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