Resenha: Carrie, A Estranha


Carrie, A Estranha
Autor: Stephen King
Editora: Objetiva
164 páginas

Gostaria de poder escrever uma canção tão simples, que não deixasse você, querida, enlouquecer. Que a acalmasse e acabasse com o sofrimento. De sua ciência fútil e vã. *tradução da letra de “Tombstone Blues” de Bob Dylan.*


Carrie, A Estranha foi o primeiro livro publicado pelo autor de horror fantástico e ficção Stephen King (todavia, não foi o primeiro livro escrito por ele). A trama gira em torno de Carrie White, uma jovem de 17 anos que vive uma vida perturbada e problemática na cidade de Chamberlain, em Maine- EUA. Sendo supervisionada a todo momento por sua mãe, uma fanática carola, que acredita educar sua filha da melhor forma possível através de ameaças e punições tanto físicas como psicológicas.
Para Margaret  White, tudo é considerado pecado, portanto não permite que sua filha se relacione com ninguém, para não receber más influências, sendo assim, Carrie vive uma vida reclusa e solitária. Como se não bastasse, a jovem é ainda alvo de crueldade de seus colegas de escola. Desde criança, é atormentada, principalmente pelas garotas, que pregam peças e inventam apelidos a seu respeito. Logo nas primeiras páginas do livro há uma demonstração de seu sofrimento na instituição. Após tomar banho com as outras estudantes, Carrie percebe que está sangrando e não faz a mínima ideia de que aquilo se trata de menstruação, pois sua mãe nunca mencionara tal fato, portanto se desespera e todas as garotas acham graça e jogam absorventes em cima dela. Para piorar a situação, ao chegar em casa, Carrie é repreendida pela mãe, que a acusa de pecadora alegando que o sangue é fruto de seus pecados.

“-E Deus fez Eva da costela de Adão- disse Mamãe. Seus olhos estavam enormes nos óculos sem aro; pareciam ovos pochês. Ela deu um chute de lado em Carrie, e a menina gritou.- Levante-se, mulher. Vamos entrar e orar. Vamos orar a Jesus por nossas almas fracas de mulher, perversas e pecadoras.”- pg. 44.

Após esse incidente, a jovem Sue- um das meninas que participaram do bullying- se sente arrependida e pede que seu namorado, Tommy, seja o par de Carrie no baile da escola. Sue acredita que essa é a forma ideal de se redimir com Carrie e que isso a proporcionará uma noite feliz e agradável. Mas, infelizmente, outras pessoas interferem, e essa noite, conhecida como “A Noite do Baile” acaba sendo uma noite terrível e memorável para a escola e toda cidade.

“Mas quase ninguém descobre que seus atos, na verdade, magoam realmente os outros! Ninguém fica melhor, as pessoas só ficam mais espertas. Quando fica mais esperto, você não para de arrancar asa de mosca, só imagina um motivo melhor para fazer isso.”- pg. 62
Além de ser vítima do fanatismo doentio e religioso de sua mãe e sofrer bullyings de seus colegas de classe, Carrie possui um segredo, ela tem um dom especial: consegue mover objetos com a força do pensamento, uma habilidade que ela possui desde bebê, mas que ficou mais forte ao chegar na puberdade. A história é narrada em terceira pessoa, sendo intercalada com documentos ficcionais (extratos de livros e reportagens com relatos do passado e do futuro da trama). O meu primeiro contato com essa obra foi através da adaptação cinematográfica de 1976 (que eu ainda considero a melhor, apesar de possuir algumas alterações em relação ao livro). Fiquei muito animada com a leitura, pois me apresentou um novo olhar a respeito de Carrie White.

“[...] esse tipo de coisa parecia estar sempre acontecendo perto de Carrie quando ela parecia perturbada, como se o azar estivesse sempre no seu pé.”- pg. 21

Apesar de Carrie ser uma jovem tímida, um pouco ingênua e introvertida, ela não é nada boba, compreende que as pessoas a acham estranha e sente tristeza e raiva por não poder viver como uma garota normal. Ela também guarda muito ódio em seu coração, e essa é a parte que eu considero mais triste da história, porque toda a ira, indignação e tristeza de Carrie a cega, e como consequência, até inocentes pagam por isso. Entretanto, o leitor acompanha e compreende todo o sofrimento de Carrie, e é impossível não assimilar as terríveis situações que ela vive com acontecimentos reais, situações que acontecem ao nosso redor todos os dias. Tenho certeza que muitos já devem ter vivenciado ou presenciado crueldades, executadas por pessoas que se acham superiores, no direito de debochar ou zombar daqueles considerados estranhos ou diferentes da sociedade. O próprio King se inspirou em duas colegas de escola para construir a personagem de Carrie, que sofreram situações similares da protagonista. Infelizmente, ambas faleceram antes de terminar o ensino médio. A história de Carrie, nos faz refletir sobre o lado obscuro do ser humano, a essência de sua crueldade e as consequências de seus atos.

“O pássaro inferior não é ajudado com ternura pelas outras aves; antes, é liquidado rapidamente, de modo implacável.”-pg. 65


Para quem não conhece a história de Carrie, eu aconselho a ler o livro primeiro, pois a obra traz um maravilhoso toque de suspense e mistério. A todo momento é apresentado ao leitor que algo terrível vai acontecer na cidade e essa tragédia está relacionada a Carrie, entretanto é preciso ter muita atenção durante a leitura devido aos recortes de livros, reportagens e relatos de pessoas inseridos dentro da trama central. Isso torna a obra um verdadeiro quebra-cabeça- eu, particularmente, acho isso excepcional- até porque o leitor acaba conhecendo melhor a Carrie, sua história, seu poder (telecinese) e o fanatismo de sua mãe. Todavia, não se trata de uma leitura difícil, ao contrário, é um livro fácil de ler, uma leitura rápida, intrigante, que te prende do início ao fim. Esse livro é, definitivamente, sensacional!


Eloise G.F



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