[Resenha] O Ceifador


O Ceifador (Scythe Vol. I)
Autor: Neal Shusterman
Editora: Seguinte
448 páginas

O livro é ambientado em um futuro utópico, onde a humanidade superou todas as tribulações. O homem é um ser imortal, não existe doenças ou guerras, ninguém passa fome ou vive em miséria. A tecnologia é tão avançada que se alguém sofre algum acidente pode ser levado a um centro de revivificação e dentro de alguns dias já está totalmente curado e intacto. Além disso, as pessoas podem rejuvenescer a sua aparência, provando que o envelhecimento já não é mais um obstáculo. A única forma de morrer é ser coletado por ceifadores, pessoas treinadas cuja missão é retirar vidas com intuito de manter o equilíbrio populacional do planeta.



“Todo mundo é culpado de alguma coisa e todo mundo ainda guarda uma memória da inocência da infância, não importa quantas camadas de vida a cubram. A humanidade é inocente; a humanidade é culpada; ambas as afirmações são inegavelmente verdadeiras. ” -pg. 9

“[...] os ceifadores podiam escolher a cor do manto- qualquer cor menos o preto, considerado inadequado para o trabalho deles. Preto era a ausência de luz, e os ceifadores eram o contrário disso. Luminosos e iluminados, eram vistos como a nata da humanidade- e esse era o motivo pelo qual eram escolhidos para o trabalho. ” – pg. 12

“[...] ser uma ceifadora era como ser uma morta-viva. Estaria no mundo, mas à parte dele. Apenas uma testemunha de idas e vindas dos outros. – pg. 55


Dentro desse universo que é narrado em terceira pessoa, o leitor se depara com a história de Citra e de Rowan, dois jovens que são convocados como aprendizes da Ceifa. O ceifador Faraday enxerga nos dois o potencial de se tornarem excelentes e sábios ceifadores, porém apenas um será escolhido. No entanto, durante os treinamentos os jovens acabam conhecendo melhor a organização e aos poucos fica claro que alguns membros já não querem seguir certas tradições e regras. Alguns ceifadores apreciam a arte de matar e não poupam o uso da violência para atingir a sua cota. Como o caso do ceifador Goddard e seu grupo, que coletam em massa. Goddard não chega ser ainda um vilão. Ele é mau caráter e suas ações são repugnantes, mas ninguém o condena por causa disso, portanto ele está livre pra fazer as coisas como bem entender contanto que respeite as regras e quantidades de coletas que deve fazer. Porém, ele é um personagem um tanto ardiloso e manipulador e seus ideais podem corromper a ordem das coisas.

“As coletas devem ser icônicas. Devem ser memoráveis. Devem ter o poder lendário das maiores batalhas da Era da Mortalidade [...] Para aqueles que serão coletados, não devemos proporcionar, no mínimo, uma morte espetacular? ”- pg. 244


“Tem muita coisa escrita sobre os assassinos da Era da Mortalidade; monstros como Jack, o Estripador, Charlie Manson ou Cyber Sally. E a única diferença entre eles e Goddard é que as pessoas deixam um ceifador sair impune. Os mortais sabiam que isso era errado, mas, sabe-se lá como, acabamos esquecendo. ” – pg. 275

Em minha opinião, o ponto mais interessante do livro é a análise e reflexão a respeito de um mundo perfeito. Como seria viver nele? Em um mundo sem preocupações com desigualdades, bombas nucleares ou aquecimento global? O que ganharíamos com isso e o que perderíamos? Na realidade do livro as pessoas acabam se tornando mais frias, em alguns casos menos amorosas com familiares e amigos, perdem suas crenças e são indiferentes com a vida, afinal elas não têm nada a temer ou perder, o conhecimento está sempre a sua disposição através da Nimbo-Cúmulo, a inteligência artificial que se tornou a autoridade da Terra. O ser humano pode viver da melhor forma possível durante muitos e muitos anos até o dia em que será escolhido por um ceifador, contudo a probabilidade de ser “escolhido” para coleta é bem baixa, o que tranquiliza um pouco as pessoas. Na verdade, a relação das pessoas com os ceifadores diverge bastante, alguns morrem de medo e querem distância, outros adoram bajulá-los, pois os ceifadores também podem conceder imunidades anuais (além dos grandes mantos, os ceifadores possuem um anel singular e ao oferecer imunidade a pessoa deve beijar seu anel), ou seja, muitas pessoas os respeitam por interesses. Apesar de a Nimbo-Cúmulo ser a maior autoridade da Terra, ela não interfere nas decisões e missões da Ceifa, portanto quem morre por um ceifador jamais pode ser revivificado.

“O desenvolvimento da civilização já se completara. Todos sabiam disso. No que concernia à raça humana, não havia mais o que aprender. Nada a decifrar sobre a nossa existência. O que significava que nenhuma pessoa era mais importante do qualquer outra. Na verdade, no esquema geral das coisas, todos eram igualmente inúteis. ” – pg. 17

“[...] boas intenções pavimentam muitas estradas. E nem todas levam ao inferno. ” – pg. 32

“Como devia ter sido a vida na Era da Mortalidade? Cheia de paixões, boas e ruins. O medo dando origem à fé. O desespero dando sentido à felicidade. Diziam que os invernos eram mais frios e os verões mais quentes naqueles tempos. Viver entre as perspectivas de um céu e um inferno eternos e desconhecidos e uma Terra misteriosa e envolvente devia ser o máximo” – pg. 51

Essa foi, definitivamente, uma leitura espetacular. Neal Shusterman criou um mundo original e intrigante, com personagens plausíveis, que crescem e amadurecem ao longo da trama. O autor desenvolveu muito bem a história, não deixou pontas soltas (não que eu tenha notado), tudo foi muito bem explicado e narrado. Eu simplesmente amei a Citra, uma personagem forte, corajosa, decidida e muito inteligente. Não vou mentir que eu fiquei com receio de Rowan ser parecido com Peeta de Jogos Vorazes (não gosto muito do Peeta não tá gente, sorry), mas ele também me surpreendeu e acredito que foi um dos personagens que mais cresceu no livro. Também amei os ceifadores Faraday e Curie, conhecida como A Grande Dama da Morte, achei bem interessante que cada um tem sua própria forma de agir, o que me despertou mais interesse e curiosidade a respeito de outros ceifadores.

“[...] apesar dos ideais grandiosos e das muitas defesas para proteger a Ceifa da corrupção e perversão, devemos estar sempre atentos, pois o poder vem infectado com a única doença que nos resta: a natureza humana. Temo por todos nós se os ceifadores começarem a amar o que fazem. ” – pg. 102


“Jogos do poder podiam ser coisas do passado em outros âmbitos, mas ainda estavam muito vivos na Ceifa. ” – pg. 144

“Nós conhecemos os planos dos conspiradores. Eles só conseguem o que querem quando nós desejamos que consigam. ” – pg. 144

Outro ponto interessante é que assistimos de camarote um mundo utópico se desmoronando. Na verdade, em nenhum momento acho esse mundo tão “bom” assim. Acredito que há muitas coisas injustas e durante a leitura senti muitas vezes uma tensão no ar, é nítido que alguma coisa vai explodir a qualquer momento e que logo logo as coisas vão tomar um rumo diferente. E esse é um dos aspectos que mais adorei no livro! Além de ser uma história repleta de intrigas, reviravoltas, mistérios e ação, o autor consegue transmitir uma sensação de aflição que deixa o leitor apreensivo pelo que está por vir. Fazia tempo que não me sentia tão animada ao iniciar uma série e fiquei ainda mais animada ao saber que vai haver uma adaptação cinematográfica. Espero que esse projeto caia em boas mãos, porque se souberem criar um filme fiel a este livro, vai ser MUITO MUITO BOM! Super Recomendo essa leitura!



Eloise G.F


4 comentários

  1. Lembro que quando soube do lançamento desse livro, nem dei muita importância, e acho que li a sinopse por alto, mas eis que me deparo com a sua resenha!! haha. Menina, você escreveu sobre ele de um jeitinho que realmente me deixou com vontade de ler. Vai para minha lista, com certeza!

    Beijos
    Universo Tácito

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    1. Aaaaah fico tão feliz em saber que gostou da resenha e que ela lhe despertou a curiosidade em ler o livro. Muito obrigada querida!! Leia este livro sim que vale muito a pena,quando ler não deixe de compartilhar tbm sua opinião comigo <3 Lhe desejo ótimas leituras!!!!

      Bjokas!!!

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  2. Que premissa mais interessante: um mundo aparentemente "quase" perfeito! Mas como nem tudo são flores, tem que ser feito o equilíbrio da população. De toda forma, acho que não gostaria de ser um ceifador rsrsrs. Eles se baseiam em que para definir quais as pessoas que vão ceifar? (Quero saber se não for spoiler rsrsrs).

    Adorei a resenha, já quero ler também ;)

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    1. Oi Caline,
      A história desse livro é realmente muito interessante e você começa a ler e não quer parar. Concordo com você também não gostaria de ser um Ceifador, é realmente muito triste. O livro apresenta um conteúdo bem inteligente, me surpreendi.

      Bom sobre a forma que os Ceifadores escolhem as pessoas...não chega a ser um spoiler até porque cada ceifador tem o seu método. Eles tem um limite de pessoas a serem coletadas em um determinado tempo e são livres para escolher e coletar como bem entender sem ultrapassar a cota. Porém, o ceifador não pode coletar só pessoas de idade x ou y, ou só negros ou brancos, ou só pobres, porque senão é considerado um tipo de discriminação, eles tem que variar o tipo, idade, raça...é uma regra que eles tem que cumprir.

      E quando puder leia sim vale muito a pena<3
      Bjuuuus!
      <3

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