Resenha: A Maldição do Vencedor

A Maldição do Vencedor

Autora: Marie Rutkoski

Editora: Plataforma 21

328 páginas

Conspiração, Intriga, Amor e Traição são palavras perfeitas para descrever a essência de A Maldição do Vencedor. O mundo que Kestrel vive sempre esteve em guerra, sendo filha do renomado general Trajan, a jovem assiste desde pequena seu pai ir a guerras para deter os bárbaros e defender o Império. Entretanto, essas guerras - até então - sempre estiveram distante dela. No momento seu povo, os valorianos, vivem “em paz” no território que antes pertencia aos herranis. A batalha entre esses dois povos foi conhecida como a Guerra de Herran, os valorianos venceram conquistando suas propriedades e terras como colônia e tornando os sobreviventes da guerra seus escravos.

Kestrel é uma jovem nobre e muito bela, e claro muito respeitada por ser filha do general. Ela possui cabelos dourados e sempre carrega consigo uma pequena adaga, características presente em todo valoriano. É uma jovem dotada de inteligência, coragem e bondade. Apesar de crescer em meio a riqueza sempre tratou bem todos seus escravos, mas sempre mantendo sua postura nobre, o que muitas vezes dá a ela um ar de metida, mas na verdade Kestrel tem um bom coração. Ela compreende que tudo que está a sua volta e lhe pertence já foi de alguém, e que na verdade foi tomado dessa pessoa, que acabou perdendo o lar e até a própria vida. Kestrel perdeu a mãe muito cedo e foi cuidada por uma ama herrani, aprendendo sobre a cultura e a língua desse povo, e claro sobre música. Ela toca piano de forma impecável, porém isso acaba não sendo muito bem visto aos olhos de seu povo, pois é uma atividade mais praticada pelos herranis, que apresentavam um vínculo forte com a música. Seu pai tem um forte desejo para que a filha entre no exército, porém Kestrel reconhece que suas habilidades físicas para combate são limitadas, apesar de ser uma excelente estrategista e ótima observadora, tais características são, sem dúvida, suas melhores qualidades, e é o que torna essa personagem tão deslumbrante e ímpar. 

A vida de Kestrel sofre uma enorme reviravolta ao conhecer Arin, um escravo herrani. Em um passeio a cidade ela acaba parando diante de um leilão de escravos no momento que Arin seria leiloado. Ao observar a zombaria das pessoas e a forma que elas menosprezavam o pobre escravo, ela resolve fazer um lance. Por ser uma pessoa popular, outros valorianos também resolvem dar lances altos, porém Kestrel sente que ela deveria ganhar e lança um valor exorbitante com o propósito de vencer a aposta e comprar o escravo, todavia mal sabia ela que esse lance mudaria toda a sua vida.

“A maldição do vencedor é quando você vence as ofertas, mas só pagando um preço exorbitante.”- pg. 19

“Ele conhecia a lei das coisas: pessoas em lugares muito iluminados não são capazes de ver nas trevas.”- p. 53

Arin e Kestrel são personagens com vidas distintas e cultura diferente. Todavia, algo em Arin desperta o interesse em Kestrel e vice e versa. De princípio, ambos se sentem confusos com os sentimentos que sentem um pelo outro, mas logo percebem que o sentimento que cresce dentro deles é algo que não podem controlar. Entretanto, o amor ali é uma palavra proibida, afinal ela é uma nobre, ele um escravo, ela é uma valoriana , ele um herrani, o amor ali seria uma traição contra seu próprio povo, mas esse fato acaba sendo um dos pontos que deixa a história ainda mais interessante e emocionante.

“Foi estranho como a sala ficou tão silenciosa. Deveria haver algum som quando a ponta de um dedo tocava o pescoço dela. Ou quando ele puxava um cacho esticado e o prendia no lugar. Ou quando deixou uma trança fina cair para a frente de modo a resvalar na bochecha dela. Cada gesto ressoava como música, e Kestrel não conseguia acreditar que não ouvia nenhuma nota, aguda ou grave.” – pg 179

Infelizmente, Kestrel terá que enfrentar muito mais do que um simples amor proibido, terá que lidar com uma conspiração contra seu povo, que lamentavelmente Arin também faz parte. A história toma rumos inesperados e envolve o leitor numa trama que se desdobra de um amor puro e verdadeiro a intrigas, traições e batalhas. A narrativa é impecável e envolvente, os capítulos são curtos o que deixa a leitura mais dinâmica, porém isso limitou alguns diálogos que poderiam ter se desenvolvido mais – sim, fiquei com gostinho de quero mais (risos).

“Tudo na guerra diz respeito ao que você sabe sobre as habilidades e vantagens do seu adversário, ele dissera. Sim, a sorte  tem algum papel. O terreno é crucial. Números são importantes. Entretanto, é mais provável que, acima de tudo, a forma como você vence os pontos do seu oponente é o que vai decidir a batalha.”- pg. 107

Kestrel observa muito bem o que acontece ao seu redor, sabe ler as pessoas e suas intenções. Sua melhor amiga acredita que o deus herrani das mentiras deve amá-la por ela enxergar tudo com tanta clareza, pois nada escapa aos olhos de Kestrel. Todavia, apesar de perspicaz seus julgamentos acabam sendo cegos devido a confiança e até mesmo devido ao amor, mas mesmo diante dos problemas a protagonista pensa e reflete sobre suas opções e soluções e o que pode fazer para sair daquela situação. É uma personagem forte, inteligente e muito corajosa.

“A felicidade depende de ser livre [...] e a liberdade depende de ter coragem.”- pg. 177

A autora escolheu esse nome para o livro quando conversava com uma amiga economista sobre leilões e ela lhe explicara o conceito da “maldição do vencedor”. O termo refere-se ao vencedor de um leilão, que além de vencer também sai perdendo, pois para sair vencedor precisa pagar mais do que as pessoas que fizeram as ofertas julgara que o item valia. Rutkoski explica que pensou que seria interessante em criar uma história onde alguém ganhasse um leilão através de um alto preço emocional, e que seria mais interessante se esse item não fosse um objeto e sim uma pessoa. Nesse caso, a autora pergunta, qual seria o preço dessa vitória?

Marie Rutkoski traz personagens bem construídos e cativantes, com uma trama emocionante e imprevisível, e uma narrativa detalhada e muito inteligente. Esse é o primeiro volume de uma trilogia, seguido por “O Crime do Vencedor” também publicado pela Plataforma 21 e “O Beijo do Vencedor" que será publicado pela editora ainda este ano. A Plataforma 21 caprichou na edição, o livro apresenta uma elegante capa emborrachada e uma linda diagramação. Pra quem gosta de histórias de guerra, conspirações e estratégias de combate, sem falar daquele romance lindo, verdadeiro e impossível, precisa conhecer essa leitura maravilhosa que é A Maldição do Vencedor.

Eloise G.F