[Especial] As Mulheres de Poe

Hoje, Edgar Allan Poe completaria 210 anos. Portanto, não poderia deixar de homenagear este autor que descreve com tanta naturalidade e espontaneidade os pensamentos e ações de uma mente inquieta, obsessiva e perturbada. São muitas as mulheres presentes nos contos e poemas de Poe, mulheres belas, mulheres quase mortas, enterradas vivas, de volta à vida, e novamente mortas. As mulheres de Poe me intrigam, por isso separei um post somente para elas.

Madeline Usher – é a irmã doente de Roderick Usher no conto "A Queda da Casa de Usher". Sua presença é sentida na casa, de acordo com as descrições do narrador que é um amigo que está de visita, contudo é raramente vista na história. Em um determinado momento Roderick insiste que sua irmã está morta e decide sepultá-la no túmulo da família que fica na casa. Roderick se encontra em um profundo distúrbio psicológico e emocional, o que geram algumas dúvidas sobre a morte da irmã (se ela de fato está morta). Esse foi o primeiro conto que li do autor, o leitor acompanha o relato do narrador sobre a casa, um ambiente lúgubre e sobre declínio psicológico de Roderick. Tanto a casa como o proprietário apresentam características que se identificam com a morte e a ruína. Este conto me intrigou bastante, principalmente seu desfecho.

Berenice – é uma jovem radiante, graciosa e bela que acaba sofrendo uma terrível doença degenerativa. Contudo, o futuro de Berenice não está comprometido apenas por causa da doença, mas também devido ao seu primo e pretendente, Egeu, um rapaz que sofre de um tipo de transtorno obsessivo. Tudo começa a piorar quando Egeu começa a ficar obcecado pelos dentes de Berenice. Em um certo momento a jovem falece e é enterrada. Mesmo morta Egeu continua a contemplar seus dentes....Neste conto, intitulado Berenice, Poe nos apresenta uma história intrigante com um desfecho macabro e surpreendente.

Annabel Lee – neste poema temos como principal tema um dos aspectos favoritos da escrita de Poe: a morte de uma linda mulher, o tom poético de sua obra. O narrador descreve seu amor por Annabel Lee, que começou ainda quando eram muito jovens. O amor entre eles era tão forte que até os anjos invejavam, e por este motivo a jovem acabou morrendo. O narrador mantém seu amor e permanece amando-a mesmo depois de morta.

“Seus retratos de mulheres são, por assim dizer, aureoladas; brilham em meio a um vapor sobrenatural e são pintados à maneira enfática de um adorador.” Medo Clássico Edgar Allan Poe vol I

Alguns críticos acreditam que as frequentes mortes de mulheres presentes nos contos de Poe estejam vinculadas a perda de mulheres ao longo de sua vida: sua mãe Eliza Poe que morreu de tuberculose, sua mãe adotiva Francis Allan, e sua amada esposa Virgínia que também veio a falecer muito cedo devido à tuberculose. Há, inclusive, especulações de que Annabel Lee seja uma referência a Virgínia, (não só nesse como em outros trabalhos seus como veremos a seguir).

“E suas mulheres, todas luminosas e doentes, morrendo de doenças estranhas e falando com uma voz que parece música [...]” – Medo Clássico Edgar Allan Poe vol I 

Eleonora – o amor, a beleza e todos os outros atributos de Eleonora são retratados de forma bem poética através de uma narrativa breve, porém detalhada em um cenário que sofre um contraste entre paradisíaco e belo a lúgubre e sombrio. É considerada por alguns estudiosos como referência a sua esposa Virgínia que, naquele momento, apresentava os primeiros indícios da doença. O conto retrata uma espécie de despedida, uma forma de o autor aliviar sua culpa, pois ao se tornar viúvo poderia voltar a se apaixonar.

Ligeia – etérea, inspiradora, com um encanto peculiar, sagrada e morta. Adorada pelo narrador e marido, Ligeia é sua primeira paixão, sendo descrita com enorme admiração. A história apresenta uma atmosfera mórbida e, em minha opinião, está entre os contos mais perturbantes do autor.

Lenore – neste poema a jovem moça de nome Lenore já está morta. Seu amado diante de sua perda, reclama das pessoas que falsamente lamentaram sua morte. Ao invés de proclamar lamúrias, o jovem noivo celebra sua ascensão ao paraíso.

Morella – com uma inteligência extraordinária, tinha muito interesse no estudo da identidade, onde acredita que após a morte a identidade de uma pessoa sobrevive e pode existir fora do corpo humano e retornar a novos corpos, situação que é retratada de forma explícita entre mãe e filha.

As histórias de Poe mexem comigo de uma forma que é difícil de explicar. É uma miscelânea de emoções, um misto entre o macabro e o belo, duas palavras tão diferentes que se conectam como peças de quebra-cabeça, tão distintas, mas inseparáveis, entrelaçadas.... Suas mulheres são lindas, admiradas, adoradas e ao mesmo tempo doentes e enterradas. Triste, sombrio, mórbido, macabro, e acima de tudo, belo. Feliz Aniversário Poe, você ainda vive entre nós! 

Eloise G.F