[Resenha] Uma Proposta & Nada Mais


Resenha: Uma Proposta & Nada Mais
Volume I – série Clube dos Sobreviventes
Autora: Mary Balogh
Editora: Arqueiro
272 páginas

O primeiro volume da série Clube dos Sobreviventes já inicia de uma forma bem interessante: primeiro por não se tratar de mocinha e mocinho convencionais, afinal, Gwen não é a jovem inocente em busca de romance, e Hugo não é o cara nobre e libertino. Não só os protagonistas, mas as personagens secundárias também fogem um pouco do padrão (o que quero dizer é que fogem um pouco do que estamos acostumados de ver dentro do gênero), e s-i-m-p-l-e-s-m-e-n-t-e adorei isso. Eu AMEI todos os personagens, a trama e a forma que o romance foi conduzido. Só conhecia um trabalho da autora, que é a série Os Bedwyns (também muito boa por sinal) e fiquei muito satisfeita com este romance e empolgada com as próximas leituras desta série. Estamos diante de uma história com personagens mais amadurecidos, que possuem um passado, experiências e cicatrizes. Gwendoline, conhecida como lady Muir, é uma viúva que resolve passar um tempo na casa de uma amiga cujo marido faleceu, com intuito de confortá-la. A casa desta amiga é próxima da residência do Duque de Stanbrook, local que se encontra o mocinho desta história, Hugo Emes, agora conhecido como lorde Trentham.


“Então de onde surgira aquela súbita solidão? Aquela onda gigante que fazia seus joelhos tremerem como se houvessem lhe roubado o fôlego. Por que sentia a aspereza das lágrimas presas na garganta?”

“Quando alguém enfrentava um grande sofrimento, sempre restava alguma fragilidade, uma vulnerabilidade onde antes houvera integridade e força, até mesmo inocência.”

A casa de campo do duque serve de encontro para um grupo de sete amigos composto por cinco ex-oficiais militares sobreviventes das Guerras Napoleônicas, o próprio duque e a viúva de um oficial que morrera. Portanto, Hugo Emes, George (duque de Stanbrook), Flavian Artnott (visconde de Ponsonby), Ralph Stockwood (conde de Berwick), Imogen Hayes (lady Barclay), Benedict Harper, Vincent Hunt (lorde Darleigh) formam um grupo peculiar que se encontra anualmente para conversar, desabafar e refletir sobre suas vidas. A conexão que se formou entre esse grupo é muito forte e a amizade entre eles é muito linda.

“Sofremos neste lugar – explicou ele. – Nós nos curamos neste lugar. Desnudamos nossas almas uns para os outros. Deixar esta casa foi uma das coisas mais difíceis que fizemos. Mas era necessário para que nossas vidas voltassem a ter sentido. Uma vez por ano, porém, voltamos para recuperar nossa integridade ou para nos fortalecermos com a ilusão de que estamos inteiros.”


“É este lugar – falou ele. – Tem sido o cenário de muitas revelações ao longo dos anos, algumas praticamente impronunciáveis e impensáveis. Existe confiança nesta casa. Confiamos uns nos outros e ninguém jamais traiu essa confiança.”

Uma situação inusitada acontece e Gwen acaba também passando alguns dias na casa do duque, aonde ela conhece melhor lorde Trentham e toda sua trupe. Hugo é um homem que despreza a nobreza, sério, direto (até demais hahha) e bem carrancudo. Ele não nasceu em berço de ouro e ganhou seu título em reconhecimento a seus feitos de guerra. Portanto, a primeira impressão não é muito boa. Gwen e Hugo é o famoso casal cão e gato, não se bicam, vivem se alfinetando...mas se desejam ardentemente.

“Às vezes, lorde Trentham, equilibrar verdade com tato e delicadeza tem o nome de boas maneiras – provocou ela.”

“Todos nós precisamos ser amados, Gwendoline, de uma forma plena e incondicional. Mesmo quando carregamos o fardo da culpa e acreditamos não merecer amor. A verdade é que ninguém merece. Não sou religioso, mas acredito que é disso que tratam as religiões. Ninguém merece, mas ao mesmo tempo, todos nós somos dignos de amor.”


“Já reparou como ficar parado às vezes não é muito diferente de retroceder? – comentou ela. – Pois o mundo inteiro segue adiante e nos deixa.”

“Quando ele havia se transformado no sol e na lua para ela, no ar que respirava? E quando o impossível se transformara apenas em improvável? Não podia se deixar abalar por um romance. E talvez fosse apenas isso. E as consequências de se sentir aliviada de um peso. Quando ele havia se tornado tão sábio, tão compreensivo, tão gentil? Depois de tudo o que sofrera? Era disso que se tratava o sofrimento? Era isso que fazia com uma pessoa?”

Apesar de apresentar seus clichês, eu fiquei admirada pela forma que a autora conduziu o romance. Foi uma leitura prazerosa, com muitas passagens profundas; o diálogo entre o casal é maduro e espirituoso, as personagens são plausíveis com qualidades e defeitos. Eu me afeiçoei mais a Gwen, pois a achei bem-humorada, compreensiva e sensata. Um dos pontos mais abordados na trama é a diferença de classe social dos protagonistas, que em minha opinião foi muito bem estruturado. A autora soube trabalhar os problemas, dilemas e superação das personagens. O que mais me incomodou em Hugo foi o fato dele olhar muito o lado dele, teve muitos argumentos que concordei, porém teve muitas atitudes dele que discordei. Não foi meu mocinho favorito, mas não é um personagem desagradável.

“[...] acho que o mar é vasto demais. Ele me assusta um pouco, embora não saiba explicar a razão. Não é medo de me afogar. Acho que o mar nos lembra do pouco controle que temos sobre a vida, por mais que tentemos planejar e organizar tudo com cuidado. Tudo muda da forma mais inesperada e tudo é assustadoramente imenso. Somos pequenos demais."

"O que pode ser até reconfortante às vezes – comentou ele. – Quando ficamos com raiva de nós mesmos por haver perdido o controle, somos lembrados de que nunca teremos controle total, de que tudo o que a vida nos pede é que lidemos da melhor forma possível com o que está nas nossas mãos. É mais fácil falar do que fazer, claro. De fato, com frequência é impossível fazer. Mas sempre acho que um passeio pela praia é reconfortante.”



“[...] O medo deve ser desafiado, foi o que descobri. Ele fica poderoso quando permitimos que nos domine.”

“A culpa vai permanecer. Sempre será uma parte sua, mas, ao compartilhá-la, ao permitir que as pessoas a amem apesar dos pesares, você ficará bem melhor. É preciso de um escoadouro para os segredos, senão eles apodrecem e se transformam num fardo insuportável.”

Outro ponto relevante é a apresentação que a autora nos traz da sociedade da época, Balogh coloca uma lupa naquela sociedade e vemos com clareza suas diferenças, tanto entre o rico e o pobre, ou até mesmo as diferenças entre os próprios nobres, com um comportamento ou uma cortesia mascarada, ensaiada e falsa (um ponto que me lembra Jane Austen, que sempre cutucou esses aspectos, mas não estou comparando as duas autoras ok).

“Hugo fez Gwen girar num canto do salão e a puxou mais para perto. Os corpos deles não se tocavam, mas com certeza estavam mais próximos do que deveriam. Deveriam de acordo com quem?”


“Talvez o amor fosse tudo. Talvez fosse o que aprenderiam se tivessem 33 vidas juntos.” 

Este livro é o primeiro volume da série Clube dos Sobreviventes, mas também é considerado um Prequel da série Os Bedwyns, inclusive muitos personagens que aparecem neste livro possuem suas histórias narradas em outras obras da autora, como é o caso de Neville e Lilly no primeiro prequel “One Night for Love”;  Kit Butler e Lauren (prima de Gwen) cuja história é narrada no segundo prequel “A Summer to Remember” e cuja história também é mencionada em “Ligeiramente Escandalosos”; a própria Gwen é mencionada nesses outros dois prequels. Outro exemplo é o marquês de Attingsborough da série Simply Quartet, volume "Simply Perfect" e o querido duque de Bewcastle e Freyja da série Os Bedwyns. Já mencionei isso no blog e não canso de comentar o quanto amo o fato do autor fazer conexões entre as suas obras.

“Não é fácil odiar quando já se viveu o bastante para saber que todo mundo caminha por uma trilha difícil pela vida e nem sempre toma decisões sábias ou admiráveis. Existem poucos vilões de verdade, talvez nenhum. Embora existam uns poucos que estão perto de se enquadrar nessa categoria.”


“[...] ninguém podia falar sobre amor e romance ou sobre o que aconteceria se o romance se esvaísse depois do casamento. Só seria possível descobrir na prática. Ou não descobrir. Ou se enfrentava o desafio ou se fugia dele. Ou se era um herói ou um covarde. Ou se era um sábio ou um tolo. Um homem cauteloso ou imprudente. Haveria resposta para alguma coisa nessa vida? A vida era um pouco como caminhar numa corda bamba fina e desfiando, sobre um abismo profundo com rochas pontiagudas e alguns animais selvagens esperando no fosso. Era perigoso, e empolgante.” 

Posso afirmar que este romance foi uma grande surpresa para mim, quando comecei a ler não havia nenhuma expectativa e finalizei com um sorriso no rosto e com vontade de ler o restante da série. Um romance maduro, com mensagens, reflexão, amizade, amor, superação e perdão. Super recomendo!!!

Eloise G.F



#DESAFIOHISTORICOSEEU3: Ler um romance de época/histórico de um autor best seller.
#RomancedeÉpoca12meses: Romance ambientado em guerra ou pós-guerra.

10 comentários

  1. Oii Eloise.
    Eu comecei a ler Uma Proposta e Nada Mais e acabei abandonando. Diferente de você não consegui me prender verdadeiramente a leitura o que dificultou e bastante minha aproximação com os personagens. Muito emnbora não posssa dizer que lerei em breve, sua resenha me anima para que pelo menos eu não abandone de vez a obra.
    Beijos.

    Blog: Fantástica Ficção

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  2. Ainda não li nada da autora, mas sou apaixonada por romance de época e gosto muito deste tipo de série.
    Achei a premissa bem gostosa e já estou curiosa para saber mais sobre Gwen e Hugo.
    A capa está linda e adorei os trechos selecionados.

    beijinhos
    She is a Bookaholic

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  3. Olá!!!

    Eu li as série dos Os Bedwyns da autora e gostei muito! Adoro romances de época, ainda mais quando trazem um diferencial, melhor ainda.
    Fiquei curiosa pelos protagonistas e por apresentar um amor mais maduro, além de que, os quotes escolhidos me deram uma boa visão do que encontrar no livro, adorei!!!
    A capa está bem simples e linda! Outro ponto positivo!

    bjs

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  4. Olá Eloise, que resenha linda. Confesso que preciso ler mais livros romances de época,pois amo de paixão, e por falar em personagens, nada melhor do que ler um livro onde o diálogo entre o casal é maduro, detesto personagens que não amadurecem, termina o livro ainda com mimimi, affe, não tenho paciência, sempre anoto suas dicas, pois suas resenhas sempre me convencem, bjus e bom fim de semana.

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  5. ahhh esses casais que se detestam, dão muito pano pra manga! hahaha
    Super legal Elo! A edição aprece muito bonita! Eu não tinha visto nenhuma resenha dele ainda, mas posso dizer que me parece uma ótima leitura!

    osenhordoslivrosblog.wordpress.com

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  6. Ei! Tudo bem?

    Eu A-M-E-I esse livro! Fiquei apaixonada no casal e adorei a escrita da autora, que eu ainda não conheci. Fiquei muito feliz em ler a sua resenha, pois consegui reviver um pouquinho a emoção que foi ler essa obra cheia de suspiros, ah! Amei saber que você gostou :)

    Beijos!
    http://www.365coresdouniverso.com.br/

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  7. Oi Eloise! Eu já tinha lido sobre esse livro e também acho a premissa dele muito interessante, por todos esses aspectos que você abordou, sobretudo pelos personagens maduros. Com a sua resenha, ele entrou de vez pra minha lista de desejados <3 Gostei de tudo o que você colocou aqui e espero conseguir ler em breve.

    Beijos,
    http://abducaoliteraria.com.br

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  8. Oi, tudo bem ?

    Ainda não li nada da autora, mas a sinopse parece ser bastante interessante, seu ponto de vista reforçou bem que a leitura é uma ótima indicação e os quotes selecionados reforçaram bem o que o livro nos propõe. Gosto do gênero e os personagens parecem ser bem pé no chão, gosto de personagens assim .

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  9. Oii, Elo!!

    Li apenas um livro da autora, que foi o Ligeiramente Casados, vou tentar ler mais dessa série este ano.
    Lembro que estranhei um pouco a escrita da Mary Balogh, a achei muito séria, estava habituada com a leveza e o humor da Julia Quinn. Mas passado o momento inicial, comecei a gostar da sua maneira de contar a história. Ela realmente aborda a questão da disparidade social, foi algo que gostei bastante!

    Fiquei um pouco confusa quanto aos prequels, parecem muitos, né? Rsrs
    Adorei a resenha ♥
    Abraço!

    https://bloghistoriasliterarias.blogspot.com/

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