[Resenha] A Bela e a Adormecida

A Bela e a Adormecida

Autor: Neil Gaiman

Editora: Rocco Jovens Leitores

72 páginas

Não é segredo nenhum o quanto sou apaixonada por Neil Gaiman, a cada história que leio dele (livro, contos ou graphic novels) fico mais apaixonada por sua escrita e narrativa. Em A Bela e a Adormecida vemos a famosa história da princesa Bela Adormecida reinventada de uma forma sombria, intrigante e fascinante. A história inicia quando uma jovem rainha é informada, na véspera de seu casamento, sobre uma praga que assola as fronteiras de seu reino. Trata-se de um sono mágico que se espalha pela região vizinha e ameaça atingir seus domínios.

“-Acordá-la de que jeito? – perguntou o anão médio [...]

-Do modo tradicional- respondeu a garçonete e ruborizou.- Pelo menos é o que reza a lenda.

-Entendi - falou o anão maior.- Uma tigela de água fria derramada na cara e um grito de ‘Acorde! Acorde!’?” 

Em nenhum momento é citado o nome da rainha e de nenhum outro personagem, mas percebe-se que, pelas características citadas, a tal rainha é nada menos que Branca de Neve, que veste uma linda armadura e se aventura no território vizinho em companhia de três anões com intuito de conter a praga.

“Eles tinham nomes, os anões, mas não era permitido aos seres humanos conhecê-los, sendo tais coisas sagradas. A rainha tinha nome, mas, ultimamente, as pessoas só a chamavam de Vossa Majestade. Os nomes estão meio em falta nesta história.”

É um livro de poucas páginas que te prende do início ao fim, com um design de tirar o chapéu e maravilhosas ilustrações produzidas por Chris Riddell (ilustrador que já fez parceria com o autor em outros trabalhos). O livro possui capa dura (hardcover) e jacket, feito de um tipo de papel vegetal que apresenta uma certa transparência, o que resulta em um efeito bem bacana, já que a ilustração presente no jacket dialoga com a ilustração presente na capa dura. Nos deparamos com uma deliciosa história que já é conhecida aos nossos olhos, mas que se torna ao mesmo tempo nova e original.

“Se conseguir passar pelas rosas, ela estará à sua espera. Ela é velha como as montanhas, traiçoeira como uma cobra, toda malévola, toda magia, toda morte.” 

Gostei da forma que o autor conduziu a trama e achei as personagens mais plausíveis e próximas da realidade, diferente daquela idealização principesca. Adorei a personalidade de Branca de Neve, suas dúvidas sobre o casamento, sua coragem para combater os males que assolavam o reino adormecido. Nota-se que a personagem apresentada por Gaiman está mais madura, pois já vivenciou o sono mágico ao morder a maçã, já lidou com uma vilã em seu próprio conto, portanto é uma mulher mais forte, experiente e valente. A história não chega a ser totalmente infantil, há um humor mais sombrio na trama, mesmo que levemente inserido. Outro ponto que me conquistou é que nossa princesa não é resgatada por um príncipe e sim por uma mulher. Em entrevista ao Telegragh, o autor diz que não tem muita paciência com histórias onde mulheres são resgatadas por homens.

“Ela ficou se perguntando como seria na condição de esposa. Seria o fim de sua vida, concluiu, se a vida fosse um tempo de escolhas. Em uma semana não teria mais o que escolher.”

“Ela mandou buscar o noivo, pediu-lhe que não fizesse cena; disse que ainda se casariam, mesmo ele sendo um príncipe, e ela, uma rainha, e fez cócegas no belo queixo dele, e beijou-o até que ele abrisse um sorriso.” 

Gaiman é um autor que me ganha em qualquer tipo de obra, pode ser romance, livro infantil ou adulto, quadrinho...Ele tem uma essência e uma pegada que é só dele que me conquista e me deixa bem, e essa obra, mesmo que pequena e singela não fica de fora. A Bela e A Adormecida é um livro encantador, mágico, com direito a suspense e aventura. Vale a pena conferir! Super recomendo!

Eloise G.F