[Resenha] Desejo à Meia- Noite – Os Hathaways 1

Desejo à Meia- Noite – Os Hathaways 1

Autora: Lisa Kleypas

Editora: Arqueiro

272 páginas

Nesse primeiro volume somos apresentados a família Hathaway composta por quatro damas, Amelia, Win, Poppy e Beatrix, pelo irmão mais velho, Leo e por um irmão de consideração, Merripen, um rom que sua família encontrara como sobrevivente de uma caça aos ciganos. Amelia é a mais velha das irmãs e já perdeu as esperanças de encontrar um noivo e de se casar, principalmente após ter sofrido uma enorme decepção amorosa. Ela é uma irmã inteligente, dedicada e muito correta, difícil ou quase impossível ver Amelia Hathaway fora da linha. Desde a morte de seus pais, a dama vive para cuidar de sua família, assumindo, na maioria das vezes, a posição de líder e chefe, pois Leo desperdiça todo o seu dinheiro em jogos, mulheres e muita bebida.

Amelia percebe que seu irmão está se auto destruindo. Durante uma busca pelas ruas de Londres, ela conhece o cigano Cam Rohan, (meio rom, meio irlandês), que trabalha num famoso clube de jogos. Num primeiro encontro, ambos se sentem imensamente atraídos, contudo um relacionamento como este jamais seria bem visto, pois os ciganos são considerados ladrões e vagabundos e estão longe de serem bons partidos para jovens inglesas.

“Ela sentiu um pequeno choque percorrer seu corpo quando seus olhares se encontraram. Embora estivessem separados por vários metros, Amelia sentiu toda a força da atenção de Rohan. Nem simpatia nem gentileza suavizavam sua expressão. Na verdade, parecia impiedoso, como se há muito tivesse descoberto que o mundo é um lugar cruel e decidido a aceitá-lo dessa forma.”

“Um rom não vivia dentro de uma casa, entre quatro paredes- em caixas, como eram todos os aposentos e casas-, enclausurados, longe do céu, do vento, do sol e das estrelas. ” 

"– Com certeza não esperaria nada de diferente de um rom. Pegamos o que queremos. Se um rom deseja uma mulher, ele a rouba. Às vezes, ele a tira da própria cama."

Um ponto interessante nessa história é que a família Hathaway não vive nas melhores condições, Amelia e suas irmãs buscam melhorar a situação, no entanto Leo não ajuda muito devido seus vícios. Mais uma vez Kleypas surpreende mostrando uma família cheia de defeitos e problemas, e nos fazendo refletir como seria passar por problemas financeiros naqueles tempos. Apesar do romance ser o ponto principal do livro, a história lida com vários aspectos importantes e relevantes como depressão, vícios e cleptomania, além de introduzir a linda cultura dos ciganos, abordando tópicos como preconceito e misticismo.

“– Sei tudo sobre chances e probabilidades – concordou Rohan. – Mesmo assim, acredito na sorte. – Ele sorriu e havia um brilho sereno em seu olhar que fez Amelia perder o fôlego. – Acredito em magia e mistério, em sonhos que revelam o futuro. E acredito que algumas coisas estão escritas nas estrelas... ou mesmo na palma das mãos.”

"– Sabia que um cigano tem três nomes? [...]– O primeiro é o nome secreto que a mãe sussurra no ouvido do bebê, quando ele nasce. O segundo é um nome tribal, usado apenas entre ciganos. O terceiro é o nome que usamos com aqueles que não são rons.”

Para melhorar de vida, os Hathaways decidem se mudar para Hampshire, contudo a propriedade recém-herdada está caindo aos pedaços. A família se torna vizinha de Lord Westcliff, que é conhecido e amigo do cigano Rohan, e óbvio que o inevitável acontece, Amelia Hathaway e Cam Rohan se reencontram.

“Ramsay House era um lugar atraente, com excentricidades, cantos secretos e características singulares que só precisavam de atenção e cuidados. Não era muito diferente da família Hathaway.”

Fiquei muito satisfeita em iniciar essa série após ter lido os livros “As Quatro Estações do Amor” de Lisa Kleypas, isso porque muitos personagens presentes neste livro são protagonistas ou coadjuvantes dessa outra série da autora, um deles é o próprio Rohan que conhecemos em Pecados no Inverno. Foi maravilhoso conhecer melhor esse cigano e adentrar nesse romance envolvente, divertido e extremamente sedutor. Tudo distribuído na dose certa.

“– Ficará mais segura se permanecer lá dentro.

– Conto com sua proteção ou não? 

– Querida – disse ele com uma suavidade que abafou o ruído da multidão –, talvez seja de mim que a senhorita mais devesse se proteger.”- 

"Cam tem sido uma espécie de forasteiro a vida toda. Mesmo quando vivia com os rons. Acho que, em segredo, sempre esperou encontrar um lugar ao qual pertencesse. Mas até encontrá-la, não lhe ocorreu que talvez ele não estivesse procurando um lugar, e sim uma pessoa."

Devo admitir que os protagonistas me irritaram em alguns momentos, isso porque ambos são muito teimosos e controladores, cada um do seu modo claro. Mesmo sendo bem diferentes eles tinham algo muito em comum, ambos buscavam sua independência. Claro que essa independência era diferente, para Cam era ser livre, voltar a caminhar com sua tribo. Já Amelia gostaria de ter uma vida mais organizada, onde poderia cuidar de sua família sem depender de ninguém para isso. No entanto, foi impossível para mim não me comover com o amor verdadeiro e cumplicidade que um teve pelo outro. Além disso Amelia não é apenas uma irmã, é uma verdadeira mãe para os Hathaways, sua família sempre vem em primeiro lugar.  Portanto, não importa suas falhas, tanto Rohan como Amelia são personagens que conquistam. O romance se inicia com um jogo de sedução quente e perigoso. Cam tem o poder de tirar Amelia de seu eixo e isso a deixa desconfortável. Ela percebe que está brincando com fogo, e busca manter seu bom senso e ficar distante do rom, - o que não consegue claro.(risos)

“Era irônico que ele se deixasse fascinar tanto por alguém que representava tudo de que ele precisava fugir.” 

"–Chorar diminui a profundidade da dor. 

– É um ditado dos rons? 

– É Shakespeare."

“[...] nenhum vagão mantém as mesmas rodas para sempre”. 

O amor de Amelia e Cam ultrapassa preconceitos e quaisquer regras da sociedade. Amelia não se preocupa por ele ser um cigano, seu único receio com Cam é de se envolver demais e depois ser abandonada- afinal ele não é o tipo de homem que cria raízes, mas sim o tipo que desfruta da liberdade. Me encantei por esse casal e com as atitudes e decisões tomadas ao longo da história, principalmente em seu desfecho. A família Hathaway é bem diferente do que esperava, excêntrica e muito barulhenta, porém divertida e cativante. Adorei entrar nesse novo território de Lisa Kleypas - até então desconhecido para mim. Animada pelos próximos volumes. Super recomendo!

**Pequeno Glossário Rom:

(Palavras e informações que achei interessante durante a leitura do romance)

Rom- designativo de cigano originário dos  Bálcãs;  populações nômades que têm, em comum, a origem indiana e a língua, romani.

Gadje- não cigano

Gadjo- homem não cigano

Gadji – mulher não cigana

Latcho drom- viagem/jornada segura

Poshram- mestiço

Monisha- Rohan explica que é um tratamento carinhoso. Os rons dizem isso para a mulher com quem têm intimidade.

Atchen tan- meu porto seguro

Phuri Dae- cigano mestiço

Chal- companheiro

Mahrime- indigno de confiança

Muladi- assombrado por um morto

Romni- minha noiva/esposa

Phral- irmão

Viajar pelo mundo em um Vardo: é um vagão tradicional guiado por cavalos e usado como casa pelo povo romani. Veja imagem abaixo:

Vardo fonte wikipedia

Vardo fonte wikipedia

#DESAFIOHISTORICOSEEU3: romance histórico com menos de 300 páginas.

#RomancedeÉpoca12Meses: Com mocinhas fortes, cheias de personalidades (as mocinhas dessa família são ótimas escolhas para esse item).

Eloise G.F