A Aventura Sem Paralelo de Um Tal Hans
Pfaall
Autor: Edgar Allan Poe
Editora Abril
#12mesesdepoe
Até
então os contos que eu resenhei do autor sempre foram voltados a uma temática
gótica e sombria sobre assuntos que envolvem aspectos da morte e obscuridade da
natureza humana. Contudo, Edgar Allan Poe é muito mais do que um autor de
contos de horror. Além desse gênero, o autor também escreveu sátiras, poemas, contos
de humor carregados de ironias e hoaxes,
esse último significa, segundo tradução, embuste, engano, trote ou brincadeira,
ou seja, é uma tentativa de enganar alguém ou um grupo, convencendo-as de que
algo falso é real.
O
conto, “A Aventura Sem Paralelo de Um Tal Hans Pfaall”, foi criado por Poe com
a intenção de ser um hoax. A história inicia-se com a chegada de um estranho
balão de ar quente que se aproxima da cidade de Roterdam na Holanda. Os
cidadãos da cidade ficam perplexos a respeito do “objeto estranho” que, de fato,
é um balão de ar quente, porém ninguém jamais tinha visto um balão como aquele,
despertando o interesse e a curiosidade de todos na cidade. O balão não chega a
descer, mas um estranho homem a bordo joga uma carta endereçada ao Burgomestre
van Underduk e ao Professor Rudabub, que são, respectivamente, o presidente e
vice-presidente do Colégio Astronômico de Roterdam. Ao jogar a carta o estranho
vai embora rapidamente.
Nessa
carta há todo relato, narrado em primeira pessoa pelo próprio Hans Pfaall,
sobre sua vida na cidade e problemas econômicos que enfrentava, sobre a forma
que surgiu a ideia da construção do balão, detalhes sobre um dispositivo que
comprime o vácuo do espaço em ar respirável e sobre toda a trajetória de sua
viagem em um balão de ar quente, cujo principal objetivo era chegar até a Lua.
“Resolvi partir, mas viver – deixar o
mundo, mas continuar a minha existência; em resumo, e para cortar pela raiz o
mistério, resolvi, sem me preocupar com o resto, abrir, se pudesse, um caminho
até a Lua. ”
O
conto apresenta uma pegada mais divertida, com leve inserção de humor e ironia.
Porém, em algumas partes, principalmente no início da viagem de Hans Pfaall, a leitura
pode se tornar um pouco maçante devida a algumas explicações e considerações
que ele descreve de forma bem detalhada a respeito dos
motivos que o leva crer que essa viagem cheia de riscos e perigos poderia ser,
de fato, realizada.
Contudo,
há diversas partes do conto que deixa a leitura bem interessante e envolvente.
Um dos pontos que mais amei na história, foram as descrições de Pfaall a
respeito da Terra vista do espaço e de sua experiência a bordo do balão, os
problemas que ele enfrentava e as soluções que ele buscava para continuar vivo
e alcançar seu objetivo. É nítido que o autor buscou sustentar teorias
científicas da época e tornar algumas delas plausíveis em seu conto.
“Ás vezes, horrores de uma natureza mais
negra, mais assustadora, introduziam-se em meu espírito, e abalavam as últimas
profundezas de minha alma com a simples hipótese da sua possibilidade.
Entretanto, eu não podia permitir ao pensamento que se demorasse demais nessas
últimas contemplações; pensava judiciosamente que os perigos reais e palpáveis da
viagem bastavam para me absorver toda a atenção.”
Há
quem diga que que Poe reinventou a ficção científica, e esse conto foi um dos
que influenciou o gênero, em especial, Jules Verne com seu livro “Da Terra À
Lua”. Mais tarde Poe escreve um hoax similar denominado “The Balloon-Hoax”. E
falando em Hoax, em minhas pesquisas encontrei um livro que me chamou muita
atenção chamado “Sins against Science: The Science Media of Hoaxes of Poe,
Twain and Others” de Lynda Walsh que relata sobre as falsas notícias escritas
entre 1830 e 1880, sobre descobertas científicas e tecnológicas e o efeito que
esses embustes (hoaxes) tiveram sobre os leitores e sua confiança na ciência.
Achei interessante compartilhar isso com vocês e fiquei com muita vontade de
adquirir esse livro, principalmente porque também fala sobre os hoaxes de Edgar
Allan Poe.
A
experiência com esse conto foi bem diferente das que eu já tinha com outras
histórias do autor. Eu, particularmente, gosto mais das histórias de horror
dele, todavia achei esse conto muito inteligente e com um desfecho intrigante.
Afinal, eu fiquei na dúvida e com pé atrás do relato de Hans Pfaall e me
questionei até que ponto tudo que ele descreve é verdade ou não (dentro da
ficção, óbvio). E fiquei imaginando se no fim das contas, ele não era um grande
charlatão (risos). É uma leitura que
vale a pena conferir, principalmente para quem já conhece alguns contos do
autor e quer saber um pouquinho mais sobre os outros gêneros que ele escreveu.
Eloise G.F
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