Resenha: Os Molambolengos


Os Molambolengos
Autora: Evangeline Lilly; ilustrado por Johnny Fraser-Allen
Editora: Aleph
48 Páginas

Selma, é uma criança curiosa, esperta e extremamente mimada. Ao se perder num parque de diversão, ela entra, por acaso, numa carroça aonde encontra o sombrio teatro de marionetes conhecido como “Os Molambolengos”, criaturas estranhas penduradas por cordas e com moedas no lugar dos olhos. Lá ela conhece cada integrante dessa excêntrica trupe que a ensina que nem sempre as coisas são do jeito que ela quer.  


"A Menina olhou ao redor para ver quem era
Que falava em tom tão obscuro.
 Mas não viu alma viva,
Exceto um rato sem saída.
Ela parecia estar em apuros."


"De repente, um barulho do alto!
A girar, nove vultos, assombrados!
Seus corpos dependurados
Como se fossem nós, entrelaçados,
Como se nove, juntos, estivessem enforcados!"

O conto é bem curtinho, porém não deixa de ser encantador. As ilustrações criadas pelo artista Jonny Fraser-Allen são maravilhosas e dialogam perfeitamente com a narrativa, que aborda um toque macabro e sombrio. A história é estruturada em estrofes e narrada através de rimas, o que resultou numa leitura leve, divertida e rápida. Eu acredito que, nesse primeiro volume, a autora buscou apresentar as personagens e seu universo ao público. A fábula, de fato, é muito inteligente e apresenta uma bela lição de moral em seu final, o que instiga o leitor a querer conhecer mais sobre esses estranhos personagens e sobre o destino da levada Selma.




Achei que a autora foi muito feliz em ambientar a fábula num parque de diversão, isso porque tanto os parques como os circos apresentam aspectos que remetem tanto ao belo, a alegria e diversão como também ao macabro, ao sombrio e sinistro. Eu conheci os trabalhos da Evangeline Lilly como atriz da série de TV Lost, aonde ela interpretou a fugitiva Kate. Soube do lançamento do seu livro na CCXP 2015, aonde adquiri esse exemplar e li no mesmo dia. Estava muito curiosa em conhecer esse outro lado profissional e artístico dela e posso dizer que amei. Todavia, esse lado de escritora não é tão recente, Lilly já elaborava ideias sobre a fábula quando tinha apenas 14 anos. O nome original do livro é “The Squickerwonkers”, seu prefácio foi escrito pelo diretor Peter Jackson e pelas roteiristas Philippa Boyens e Fran Walsh. Adoro contos infantis que abordam uma temática mais sombria em seu contexto. Essa fábula me lembrou um pouco dos livros de Neil Gaimam (em especial Coraline) que também aborda temas mais sombrios e assustadores em seus livros infantis. Não estou dizendo que a história é parecida e sim a essência tenebrosa presente na trama.



"Caiu do teto um novo fantoche
Igualzinho ao Vovô Ricos da Realeza!
Veio uma onda sombria, de agitação,
Coisas estranhas em profusão
Sob a luz das lâmpadas e acima das cabeças!"



"Botões no lugar dos olhos e palha no cabelo
Era ele, Vovô Fantoche, ali na frente [...]"


Uma das coisas que Neil Gaiman fala sobre esse lado assustador nos livros infantis (e que eu concordo), é que não adianta você querer proteger a criança evitando o lado sombrio das histórias, pois como as crianças vão se proteger de algo que não tem conhecimento? E acrescenta que é importante apresentar as crianças as coisas sombrias e ruins do mundo, e nessa apresentação mostrar também a forma de superar essas coisas ruins, como se proteger e combatê-las. E isso é exatamente o que está presente no conto de Lilly. Nesse caso é uma menina mimada que sofre as consequências de sua desobediência e teimosia, que assim como em alguns contos antigos, apresenta uma lição e aprendizado em seu desfecho.



Não posso deixar de mencionar a editora Aleph que fez um ótimo trabalho, tanto no design da capa como na escolha do papel, percebe-se que toda a produção do livro foi feita com muito capricho. Uma obra encantadora que reúne a excelente narrativa de Lilly com as tenebrosas ilustrações de Johnny Fraser-Allen. Ta aí uma fábula que você não pode deixar de conhecer.  


Eloise G.F



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