Resenha: Miniaturista


Miniaturista
Autora: Jessie Burton
Editora: Intrínseca
352 páginas

“O Homem Toma Por Brinquedo Tudo o Que Vê.”-pg. 66

O romance narra a história da jovem Petronella Oortman, também conhecida como Nella, que se muda para Amsterdã com intuito de iniciar sua vida de casada ao lado de seu esposo Johannes Brandt, um comerciante muito famoso e rico da região. Entretanto, a vida de Nella está longe de ser um conto de fadas. Ao chegar na casa de seu marido, acaba não sendo tão bem recebida, principalmente pela sua cunhada, Marin Brandt, uma mulher maliciosa e extremamente misteriosa. Petronella percebe que há algo muito estranho em toda a casa. Além dela, há apenas dois empregados, que possuem um comportamento singular, dando opiniões e respostas atravessadas, sua terrível cunhada e seu marido, este apesar de ser um homem bom e gentil, quase não permanece em casa dando prioridade aos seus negócios e viagens.


“Você sabe o que dizem sobre lírios? [...] O primeiro a florir, o primeiro a morrer.”- pg. 24

Nella permance a maior parte do tempo sozinha em casa, tendo que aguentar a sua cunhada, incapaz de agir com total liberdade e sem entender o distanciamento de seu marido. Para não dizer que Johannes não se preocupa  com Nella, ele resolve dar um lindo e inusitado presente de casamento a sua esposa: Uma casa de bonecas, mas não uma qualquer, uma réplica em miniatura reproduzindo com exatidão o lar dos Brandt.
Todavia, Petronella vê o presente com outra perspectiva, não o enxerga como um presente carinhoso de afeto que um homem daria a uma mulher, e sim um presente dado a um criança. Mesmo assim, ela resolve assumir o presente e imediatamente contrata um miniaturista para confeccionar alguns móveis àquela pequena casa.

“[...] o mar é algo que a terra nunca será [...]Os caminhos nunca permanecem os mesmos.”- pg 41


“-Os bens dele só cresceram.
-E o que acontece quando chega ao topo?
-O que  acontece sempre, madame. As coisas transbordam.”-pg. 41

O primeiro contato de Nella com o artesão é bem estranho, ela só consegue se comunicar com o enigmático miniaturista por cartas, sem conhecer sua verdadeira identidade. Mas o mais estranho ainda estava por vir, ao receber os seus primeiros pedidos, Petronella fica estupefata. O artesão lhe envia peças exatamente iguais as que existem na sua casa, fazendo Nella se perguntar que tipo de pessoa seria ele e como conhecia tão bem o interior de sua residência. E a situação só tende a piorar, pois ela recebe outros itens sem ao menos solicitá-los e percebe, com o tempo, que o que acontece na miniatura se repete na vida real. Além das réplicas fiéis de seus móveis, Nella recebe mensagens que a deixam assustada e ao mesmo tempo desperta certas curiosidades sobre o que mais o artesão poderia lhe enviar. Aos poucos, os segredos que se revelam induzem Petronella a situações ainda mais complicadas, fazendo-a se questionar que tipo de pessoa o miniaturista é. Afinal, o artesão queria alertá-la ou amaldiçoá-la?

“Toda mulher é arquiteta de sua própria sorte.”- pg. 76


“Eu luto para emergir.”- pg. 101

A história é ambientada no século XVII, no final de 1686. É um romance recheado de suspenses e segredos, que quando revelados realmente te surpreendem. Os personagens são interessantes, bem estruturados, autênticos e carismáticos, principalmente a protagonista que é determinada e possui um coração extremamente bondoso. O design e diagramação do livro são lindos, amei a textura da capa e do papel, e não encontrei erros. A intrínseca sempre faz um excelente trabalho.  A autora se preocupa em manter alguns elementos em holandês, apresentando um glossário no final do livro e a história em si é repleta de informações  interessantes da época que complementam a obra com um pano de fundo bem elaborado e autêntico.  A própria protagonista do romance foi inspirada na verdadeira Petronella Oortman, que foi uma mulher holandesa que viveu entre 1656-1716, se casou com Johannes Brandt, um mercador rico, moravam em Amsterdã e possuía uma linda casa de bonecas. Era símbolo de status, na Holanda, uma esposa nobre possuir uma casa de bonecas.


Casa de Bonecas de Petronella Oortman fonte: wikipédia

Todavia, teve alguns pontos que me incomodaram na trama. Um deles foi o desenrolar da história que foi muito lento. Acredito que o romance ficou tão imerso em segredos e mistérios que a própria protagonista, na maior parte da história, fica perdida. Em um certo ponto, ela ganha uma certa maturidade e quando você pensa que as coisas vão caminhar, elas estagnam de novo. A maioria das vezes que a protagonista pretende tomar uma atitude e agir, ela é levada para outra direção e como resultado acaba não progredindo muito.


Outro ponto que não me agradou foi o contato de Petronella com o miniaturista, e até mesmo o contato dela com a miniatura da casa. Sinceramente achei que a autora poderia trabalhar melhor essa relação, até porque a miniatura e seus mistérios acaba, na maioria das vezes, ficando de lado, sendo suporte da história e resultando em uma trama com muitas pontas soltas. Não é um livro ruim, mas eu realmente esperava muito mais do romance, principalmente no que deveria ser seu tema principal. Entretanto, é uma história que aborda outros temas muito interessantes como preconceito, desigualdade social, a situação da mulher na sociedade daquela época, o poder da religião e seu fanatismo, e a ambição dos homens, todo esse conteúdo foi abordado de forma notável pela autora.



Eloise G.F

2 comentários

  1. Ooi! Amei as fotografias \o/
    Eu não esperava esse enredo :O esperava algo mais bonitinho por conta da capa hahaha Não conhecia o livro, e não sei se a leitura fluiria, porque eu não costumo ler suspense ou um livro com muitos mistérios, porque dependendo da escrita, eu acabo ficando entediada, porque os mistérios todos só se resolvem nas últimas páginas e às vezes nem é realmente bom, sabe?
    Gostei da sua sinceridade, como sempre!
    Beeijos

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    1. Oi Ruhh, então eu realmente esperava mais dessa história. Gostei dos personagens e algumas situações até são interessantes. Mas não é um livro que leria de novo por exemplo. Eu amo mistérios e suspenses, mas quando eles são demais e o autor não sabe conduzir muito bem eles, fica difícil e como você mesma disse, fica entediante. Obrigada pelo comentário <3

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