[Resenha] Agnes Grey



Resenha: Agnes Grey
Autora: Anne Bronte
Editora: Martin Claret
294 páginas

Sempre tive interesse de conhecer o trabalho das irmãs Bronte, mas ao invés de começar pelas obras mais conhecidas, optei por uma leitura pouco mencionada no meio literário. Sempre leio a respeito de Charlotte e Emily Bronte, mas quase não vejo nada sobre Anne, portanto resolvi começar por ela e saber mais sobre sua obra e história. O primeiro romance da autora aborda a história da jovem Agnes Grey e sua experiência como preceptora/governanta em casa de família nobre inglesa. Um dos aspectos que mais me chamou atenção foi o fato da autora ter se baseado em suas próprias experiências como governanta para escrever o romance, ou seja, é uma história quase autobiográfica.


A posição de governanta não apresenta nenhum privilégio. Ao meu ver é uma empregada como outra qualquer, e apesar de estar bem próxima da família com intuito de ensinar e disciplinar os mais jovens, é constantemente desrespeitada e tratada com um certo desprezo, sempre sendo alertada de seu devido lugar. Foram os vários momentos que me senti incomodada pela forma que as famílias a tratavam. Acompanhamos Agnes em dois trabalhos e apesar do segundo ter sido 'um pouco’ melhor que o primeiro, ela sempre tinha que lidar com pais negligentes e filhos extremamente mimados, egoístas, desagradáveis e, às vezes, cruéis. Não tendo nenhum tipo de autoridade em seu ambiente de trabalho e recebendo a culpa por todos os erros e falhas dos jovens.

“Todas as histórias verdadeiras contêm ensinamentos; em algumas, entretanto, o tesouro pode ser difícil de encontrar e, quando encontrado, se mostra tão insignificante que o fruto seco e murcho mal compensa o trabalho de quebrar a noz.” 

Agnes é uma jovem doce e determinada que quer provar a sua família que é capaz de cuidar de si mesma, busca por sua independência e tem o intuito de ajudar seus pais com os frutos de seu trabalho. Apesar de vir de uma família menos abastada, é uma jovem instruída e encontra no papel de preceptora uma oportunidade para alcançar seus objetivos. É interessante acompanhar toda a história sob o ponto de vista de uma governanta da época. Através de uma narrativa em primeira pessoa, Agnes apresenta ao leitor seu mundo, a forma que ela é vista na sociedade e sua posição de mulher e de governanta. No posfácio desta edição, Lilian Correa nos revela que Agnes Grey pode ser visto como um romance de cunho feminista, com ideais emancipadores, sendo um dos exemplos de narrativa que aborda o cotidiano da vida doméstica de uma determinada época.

“Conheci muitos entre as classes mais altas que tratavam suas governantas como membros da família; apesar de alguns, sou forçada a reconhecer, serem tão insolentes e exigentes quanto muitos outros, pois existem os bons e maus em qualquer classe.” 

Anne Bronte levanta questões importantes em sua narrativa como a opressão e abuso da figura feminina (tanto de forma geral, como focando o aspecto serviçal), e também opressão e maus tratados aos animais (a autora deixa claro que o tratamento aos animais refletia o caráter da pessoa), outros aspectos presentes na narrativa pontuados no posfácio desta edição são: o isolamento e ideias de empatia, como também a instrução como forma de acesso à sociedade ou ao retorno ao seio familiar.

“A adversidade me havia feito amadurecer e a experiência me orientara, e ansiava por resgatar minha honra perdida aos olhos daqueles cuja opinião para mim valia mais que a de todo mundo.” 

Agnes me lembrou um pouco a personagem Fanny Price, de Mansfield Park, da autora Jane Austen, por ser uma pessoa gentil e muito amável. Contudo, um ponto que me incomodou foi o fato de Agnes ser o tipo de pessoa que prefere sofrer a tomar uma decisão que prejudique seu emprego (obs: apesar das personagens estarem em situações diferentes, Fanny também sofria muito calada e isso também me incomodava). Sinceramente, às vezes eu queria vê-la chutando o balde, eu queria entrar no livro e sacudi-la, poréeeem eu compreendo que a posição da mulher naquela época era complicada, principalmente a mulher que vinha de uma família humilde. Portanto, Agnes me provou ser uma jovem forte, determinada e sábia, que aguenta muita coisa calada sim, mas que escolhe seu caminho com muito cuidado e cautela.

Não posso esquecer de mencionar o quão bela é essa edição. A editora Martin Claret criou lindas capas para a coleção das irmãs Bronte, todas elas lembram lindas pinturas de paisagens. O tipo de capa que você fica admirando. A diagramação, o papel e o texto também estão impecáveis e adorei o fato de ter um prefácio e um posfácio sobre a obra e a vida da autora.  O romance é bem curto, trazendo uma leitura dinâmica e intimista e uma narrativa simples e tocante, repleta de reflexões. Super recomendo!


Eloise G.F

7 comentários

  1. Menina que capa maravilhosa desse livro.
    E o que são essas fotos?? Um arraso!
    Não conheço essa autora ainda, mas só pelo fato do livro tratar de questões como opressão e abuso da figura feminina,opressão e maus tratados aos animais, com certeza já irá para minha lista. Parabéns pela resenha, maravilhosa como sempre!

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  2. Oi Eloise.
    Eu adoro o livro da irmã, Charlotte, e espero muito ler essa obra da Anne. As questões levantadas fazem o meu estilo, sendo que para a época era revolucionário. Sinto necessidade desse tipo de obra.
    Beijos.
    Fantástica Ficção

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  3. Acredita que nunca li uma resenha desse livro? Achei formidável!Já conheço as outras irmãs e agora vejo que preciso ler essa tb!
    Toda essa critica social da época é muito forte ne, a gente sofre junto e realmente quer sacudir as personagens para mudar a vida delas!

    Osenhordoslivrosblog.wordpress.com

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  4. Oii!
    Que fotos mais lindas!
    Não conhecia esse livro, confesso, mas amei essa pegada feminista!
    Achei sua resenha maravilhosa e, se a intenção era conquistar alguém pra leitura mesmo, já conseguiu uma aqui!
    Gostei demais!

    Beijos!

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  5. A Anne é a única irmã Brontë que não tentei ler nada ainda, tentei ler da Emily, mas não fluiu para mim, deixei para o futuro, rs; da Charlotte eu li Jane Eyre e não tive como não favoritar. Agora fiquei com muita vontade de ler esse livro, eu já vi e-book dele, mas não tinha lido nenhuma resenha ainda (já reparou que ultimamente não se encontram muitas resenhas recentes de clássicos?). Até hoje da Anne eu queria ler A Inquilina de Wildfell Hall,mas agora quero ler Agnes Grey também, melhor ler tudo dela para garantir, rs.

    Parabéns pela resenha!
    Bjo
    ~ Danii

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  6. Muito legal, amo romances de época! Embora tenha as questões feministas, abusivas, e principalmente maus tratos , que eu não suporto, o romance de época me cativa muito , os cenários, paisagens , roupas , forma de falar! Ainda não tive a oportunidade de ler nenhum dos livros citados, mas com certeza irei gostar, obrigada pela dica!

    Isa do @leportraitdeisa.

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  7. Muito legal, amo romances de época! Embora tenha as questões feministas, abusivas, e principalmente maus tratos , que eu não suporto, o romance de época me cativa muito , os cenários, paisagens , roupas , forma de falar! Ainda não tive a oportunidade de ler nenhum dos livros citados, mas com certeza irei gostar, obrigada pela dica!

    Isa do @leportraitdeisa.

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