[Resenha] A Abadia de Northanger

Resenha: A Abadia de Northanger

Autora: Jane Austen

Editora: L&PM

272 páginas

“[...] eis uma circunstância peculiarmente comum na vida de uma heroína; sua firmeza em meio à provação é o que particularmente dignifica seu caráter.” 

Em 16 de dezembro de 1775 nascia Jane Austen. Claro que não poderia deixar passar essa data sem mencionar algo relacionado a autora, portanto segue a resenha de A Abadia de Northanger.

Esta obra está entre minhas favoritas da autora. Com uma narrativa divertida e irônica, a história gira em torno da heroína Catherine Morland, uma moça ingênua que adora se aventurar em livros de romance gótico. A jovem de apenas dezessete anos sai do seu vilarejo ao lado de um casal de amigos para visitar e passar uma temporada em Bath. Lá Catherine está mais próxima da aristocracia inglesa, frequenta a famosa estação balneária e bailes elegantes. Conhece uma jovem que logo vira sua melhor amiga e pretendente de seu irmão, Isabella Thorpe. Outro jovem que ela tem o prazer de conhecer é Henry Tilney, o qual se afeiçoa rapidamente. Logo, Catherine é convidada por Henry e sua irmã Eleanor a passar um tempo como hóspede de sua casa, conhecida como Abadia de Northanger, uma antiga e bela construção semelhante aos cenários que Catherine conhecia em seus livros. Lá a jovem se depara com segredos macabros de família e começa a se aventurar por aquele misterioso cenário e ir atrás de pistas que lhe revelam uma possível cena de crime. Será que ela encontra algo de fato ou tudo não passa de fantasia criada por sua imaginação?

“Com todas as chances contra Catherine de fosse casa, mansão, palácio, casa de campo ou chalé, Northanger calhou ser uma abadia, e ela viria a ser sua habitante. Os corredores compridos e úmidos, as celas estreitas e a capela arruinada estariam diariamente a seu alcance, e ela não foi capaz de subjugar por completo a esperança de entrar em contato com certas lendas tradicionais, certos memoriais escabrosos de uma freira ferida e desafortunada."

“Toda jovem dama poderá ter compaixão por minha heroína, pois toda jovem dama já experimentou, em determinado momento, a mesma agitação. Todas elas já foram vítimas, ou pelo menos acreditavam ser, da perigosa perseguição de alguém que desejavam evitar, e todas já ansiaram pelas atenções de alguém a quem gostariam de agradar.”

“Nenhum homem se ofende quando outro homem admira a mulher que ele ama; somente a mulher pode fazer disso um tormento."

Catherine é uma heroína que me lembra um pouco Fanny Price de Mansfield Park, por ser ingênua e ter o coração puro e um pouco Elizabeth Bennet de Orgulho e Preconceito, por fazer o que é correto e ser esperta ao ponto de não permitir que as pessoas a manipulem ou controlem seus atos e vontades. É uma personagem que surpreende e amadurece ao longo da leitura. Um aspecto que eu amo nos romances de Jane Austen, além de suas heroínas e sua narrativa cômica e irônica, é como a autora consegue transmitir o melhor e o pior das pessoas em suas personagens. Os vilões criados pela autora são pessoas mesquinhas, extremamente egoístas e egocêntricas. É incrível como do mesmo modo que você ama um personagem você tem vontade de esmurrar o outro, e acho incrível isso porque ela consegue trazer realmente a realidade para o papel. Os vilões criados por ela sempre visam o próprio umbigo e fazem de tudo para subir na vida, inclusive pisar nos outros, pessoas sem honra ou caráter, ao contrário dos seus mocinhos, que também possuem seus erros, mas são pessoas que buscam fazer o que é correto, se arrependem e querem conquistar seus sonhos pelos seus próprios esforços, e desejam o melhor para o outro também.

“-Nunca olho para colina – disse Catherine, enquanto caminhava ao longo do rio – sem pensar no sul da França.

-A senhorita já esteve no estrangeiro então?- perguntou henry, um pouco surpreso.

-Não! Eu me refiro a coisas que já li. Sempre me vem à mente a região que Emily e seu pai percorreram, em Os mistérios de Udolpho [...]”

"As vantagens da tolice natural em uma bela garota já foram estabelecidas pela pena superior de uma autora irmã, e ao tratamento que ela dispensa ao assunto acrescentarei apenas, para a justiça aos homens, que, embora aos olhos da maioria frívola do sexo, a imbecilidade seja um grande realce para os encantos pessoais femininos, existem alguns que são eles mesmos racionais e bem-informados demais para que desejem mais do que ignorância em uma mulher.” 

Esta obra foi publicada postumamente, em 1818, em uma edição que também apresentou Persuasão aos leitores ingleses. É um dos livros mais cômicos da autora e muito leve também. Catherine é uma heroína esperta e uma leitora voraz. A trama faz paródia aos romances góticos que eram muito apreciados na época, com seus ambientes lúgubres e castelos macabros, com direito a passagens secretas e fantasmas. A autora recebeu influências de romancistas como Fanny Burney, Maria Edgeworth e Ann Radcliffe. Existe, inclusive, uma lista chamada The Northanger Set of Jane Austen Horrid Novels. Tem muitas curiosidades a respeito desta obra, estarei falando mais sobre o livro e sobre esta lista de romances góticos ao longo da semana. A Abadia de Northanger também pode ser visto como um processo educativo, ao alertar e discutir o valor literário da época as jovens que se empolgavam pelo fantástico e se esqueciam da realidade cotidiana.