[Resenha] Amor e Orgulho



Resenha: Amor e Orgulho
Autor: Georges Ohnet
Editora: Pedrazul
250 páginas

Amor e Orgulho é um clássico que retrata a história da família Beaulieu, (composta pela mãe marquesa e os irmãos Octave e Claire), uma nobre e respeitável família francesa cuja situação financeira se abala após a morte de seu patriarca, o marquês de Beaulieu. A situação fica ainda pior quando Claire é traída por seu grande amor, o duque de Bligny, que mesmo estando prometido a moça se entrega a bebidas, jogos e se compromete com uma outra jovem.


O foco principal da trama gira em torno de Claire e seu orgulho. A jovem é prima do duque, portanto tem que assistir de camarote o homem de seus sonhos nas mãos de outra, mas para piorar (sim, pode ficar pior) a jovem descobre que a outra é nada menos que sua pior rival, Athenais, uma moça mesquinha, cujo desejo é humilhar Claire. A decepção com o duque é tão grande, que num ato de desespero e egoísmo Claire busca a primeira alternativa que vê a frente: Philippe Derblay, seu vizinho, um poderoso industrial, dono de uma usina siderúrgica em Pont-Avesnes.

"Com seu bom senso precoce ela enxergou a distância que separava Philippe da orgulhosa e altiva Claire. Chegou a imaginar, porém, se talvez algum acontecimento inesperado não pudesse unir estes dois seres tão diferentes."

Era bem verdade que Claire se mostrou tão fria e indiferente quanto no primeiro encontro, mas sua postura desdenhosa e altiva, em vez de desconcertar o dono da siderúrgica, desta vez o irritara; e quanto mais mademoiselle de Beaulieu fingia ignorar a sua presença, mais crescia sua determinação de se fazer notado.”

Philippe é apaixonado por Claire e diante de sua situação concorda em se casar com ela, pois acredita que a fará feliz e a ajudará a esquecer as tribulações que tanto a amarguraram. No entanto, Claire só consegue enxergar a vingança, para ela o casamento é só uma forma de mostrar indiferença à união de Bligny e Athenais, mas mal sabia ela que tal atitude iria prejudicar seu relacionamento com Philippe e seria consequência de inúmeros sofrimentos futuros.

“Mas ele estava determinado a penetrar naquele coração que insistia em permanecer fechado, estava determinado a desvendar este mistério, e assim se acalmou e se encheu de coragem.”

“Seria possível que seus sentimentos pudessem mudar? Ela deu as costas para a cena alegre e, retornando para a solidão, para a tristeza e para a escuridão, desprezou as promessas de uma vida melhor.”

“Passou a encarar a vida como um campo de batalha onde cada combatente precisava se proteger para não se ferir, e se armar de ousadia para vencer.”

Devo confessar que o início a história me deixou muito aflita, até porque vi muitos personagens carregados de sentimentos ruins. Claire, inclusive, me deixou muito angustiada, afinal, ela é uma jovem imatura, mimada e extremamente orgulhosa, não dá para gostar dela logo de cara. Fiquei com muita pena de Philippe e com receio de vê-lo sofrer, afinal ele é um homem bom, amoroso e respeitoso, mas para meu alívio a história vai tomando rumos inesperados. Foi, de fato, uma leitura que se iniciou um pouco arrastada para mim, mas que se tornou envolvente e prazerosa.

“Seus cálculos estão incorretos – disse ela, – e mostram apenas que não sabe nada sobre as mulheres. Sinto apenas que ao levar que em consideração o comportamento das loucas ou depravadas, tenha se esquecido das honestas. Elas são, e meu orgulho de dizer, as felizardas que não perdem a cabeça, não recorrem à vingança e conseguem encontrar consolo em si mesmas, preservando assim a autoestima e o merecido respeito dos outros.”


“Você está ligada a um homem que sempre será, moralmente ao menos, diferente de você. Ele é um plebeu e você é nobre. Tenho certeza de que ele acredita no igualitarismo, enquanto você é aristocrata até os fios de cabelos. Ele é grosseiro, gosta de tudo que vem do povo, você é o contrário. Você é orgulhosa, aprecia os membros da nobreza, e isto o fere. Vocês nasceram inimigos nesta disputa. Os avós desse cavalheiro cortaram as cabeças dos seus, minha querida. Em suma, existem mil motivos para vocês se odiarem, e nenhum para se amarem.”

Como mencionei acima há personagens de caráter deturpado na trama. Os piores, claro, são Athenais e o duque de Bligny. Me impressionei com a capacidade do autor em construir personagens tão mesquinhas e tão reais ao ponto de eu querer entrar nas páginas e lhes dar uns belos tapas.

“Elas se entreolharam com sorrisos mortais, dando continuidade à luta em termos de cortesia. Foi como uma batalha disputada com alfinetes de ouro que penetravam na carne, afiados e perigosos, como uma adaga. Parecia uma luta disputada com leques, manipulados entre sorrisos, embora os ataques traiçoeiros fossem tão duros quanto golpes de verdade. Uma guerra de mulheres, cada ataque calculado com refino, e a vitória era tão ardentemente disputada que as duas combatentes poderiam acabar gravemente feridas.”


A trama não retrata apenas o casal principal, pois o autor apresenta todas personagens e algumas de suas histórias como também explica de forma detalhada a sociedade do final do século XIX, momento que a burguesia ganhava espaço e enriquecia devido ao esforço do próprio trabalho.

“Atualmente a nossa superioridade sobre as outras classes está apenas no fato de sermos fiéis a palavra dada. A ‘palavra de um nobre’ é igual a um provérbio. Mas quando não cumprimos com as nossas promessas, as pessoas deixam de acreditar no nosso respeito pela palavra dada, e assim perdemos o último vestígio da nossa boa reputação.”

“Não consigo entender tanta ingratidão por parte dele, pois quando mais jovem ele tinha um coração leal e generoso. Como pôde ter mudado tanto? Será que a sociedade tem o poder de desfazer todo o trabalho de anos, em alguns meses?”


“Antigamente as pessoas costumavam dizer: ‘Honra ao mais valente’, mas hoje em dia preferimos: ‘Oportunidade ao mais inteligente’.”

“Na sociedade que acabou de entrar, meu caro, os sentimentos costumam ser expressos por meio de uma linguagem delicada e sutil. Não há espaço para arroubos sentimentais, nem antipatia definitiva. Tudo é feito com tato e cautela.”

Confesso que Claire foi uma maravilhosa surpresa, é uma personagem que amadurece e cresce na trama, foi aí que percebi que a história é muito mais que traições, vingança, inveja, desprezo ou orgulho, mas também retrata sobre o amor puro e verdadeiro, a amizade, superação e perdão. Gostei tanto de Claire e Philippe que ansiava pelas cenas que os dois apareciam juntos, e ficava na torcida para o casal encontrar uma forma de se perdoar e quebrar o orgulho que os envolvia. 

“Não dei ouvidos à voz da razão, à prudência da experiência; só escutei o amor que cresceu de modo irresistível dentro do meu coração.”

“Enquanto as mãos trêmulas do poderoso magnata prendiam o colar de brilhantes ao redor do pescoço da sua esposa, seus dedos resvalaram a pele alva e macia, e ele notou que ela estremeceu ao toque.”

Há uma adaptação hispano-italiano no youtube com o título 'Philippe Derblay, o Amor Y Orgullo', caso queiram conferir:


A Pedrazul Editora disponibilizou a prévia do livro em e-book para nós parceiros, mas vocês já podem adquirir o livro que está em pré-venda no site da editora, clicando AQUI. Eu sou suspeita a falar porque amo as capas que a editora escolhe para seus livros, mas não há como negar o quão linda é esta capa, Pedrazul sempre caprichando em suas edições, já quero adquiri o meu físico. Georges Ohnet desenvolveu personagens reais e plausíveis num ambiente repleto de paixão, interesses, intrigas e desafios. Se você curte fortes emoções mergulhe de cabeça nessas páginas. Recomendo!


Eloise G.F

*Com esta leitura respondi o item 4 do desafio #RomancedeÉpoca12meses, que consiste em ler um romance que não se passa na Inglaterra.

8 comentários

  1. Oii Eloise. Eu amei a ideia desse livro, porque mesmo amando o romance de época, muitas vezes eu prefiro algo que saia do cliché daquilo que é esperado para ele. Uma das coisas que me motiva a ler então Orgulho e Amor é o fato dos personagens terem caráter detupardo bem como o não foco total no romance. Amei a dica. Beijos.

    Fantástica Ficção

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  2. Que incrivel Elo!
    Amo personagens reais! Que nos tiram da zona de conforto, nos surpreendem!
    A história parecia mais do mesmo, mas esses detalhes me fazem ver que não :)

    osenhordoslivrosblog.wordpress.com

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  3. Oi Eloise, que história interessante! Eu já li algumas resenhas desse livro antes mas, nenhuma delas havia chamado a minha atenção como a sua, estou curiosa para saber como a jovem e imatura Claire, deixará seu orgulho de lado e dará uma chance para o Phillip.
    Eu já li um livro em que os personagens tem muito rancor no coração, parece que aquele sentimento foi crescendo dentro de mim, fiquei vários dias me sentindo ruim e acabei abandonando o livro.

    Beijos e Abraços Vivi
    Resenhas da Viviane

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  4. Essa leitura foi uma surpresa para mim. No começo demorei um pouco para me acostumar com a linguagem, mas logo peguei o ritmo e percebi que a escrita não era rebuscada. A narrativa na verdade é bem tranquila quando você se acostuma. Gostei como o autor construiu os personagens, a Claire realmente amadurece depois daquele fatídico momento. Mas tenho que dizer que achei a sua mudança um tanto repentina, principalmente em relação aos Phillip. Mas não foi algo que chegou a me incomodar tanto, afinal gostei bastante do livro e que bom que gostou também! ♥

    Abraço!
    https://bloghistoriasliterarias.blogspot.com/

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  5. Oi Elo! Adoro esse tipo de trama, cheio de intrigas, dramas e vingança. O desenvolvimento e as transformações dos personagens se torna muito interessante quando há tanto sentimento intenso envolvido. Fora que, adoro também um bom clichê. Tenho certeza que eu iria adorar esse livro, por isso amei a indicação. Vou ficar de olho nele a partir de agora. Beijos.

    http://abducaoliteraria.com.br

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  6. Olá Heloise, tudo bem?
    Mesmo achando que a leitura foi arrastada, esse com certeza seria um livro de época que eu colocaria na estante. Kkkk Estou tão surpresa de encontrar algo que não é sobre um homem devasso e uma moça caindo de amores que eu gostaria que sua resenha (que por sinal é ótima) se prolongasse, hahaha! Eu realmente me interessei nos fatos abordados pela autora, como essa diferença entre classes, colocando essa divergência nos pensamentos e nas personalidades do casal. Sem contar que a Claire não é o tipo de personagem que costumo encontrar com frequência e por mais que ela pareça não ter boas intenções, aparentemente ela tem seus próprios ideias, mesmo sendo algo controverso.

    Serio, amei a indicação! <3 E parabéns pela resenha caprichada e bem desenvolvida. Sobre essa capa, imagina uma edição dela em capa dura? Seria fantástica!

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  7. Oi, tudo bem ?

    Nossa amei essa resenha ! Ela apresenta bem o livro, ressalta alguns quotes e ainda fala sobre a adaptação. Eu já havia lido resenhas sobre esse livro antes ,mas não sabia da adaptação , então a resenha está bem rica. Com toda certeza está é uma ótima dica de leitura.

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  8. Desde sempre, este é um dos meus livros preferidos. As primeiras edições foram publicadas com o nome de "O grande industrial" (Le maître des forges,no original francês). Sabe que esse livro é citado por Proust, no volume I de "Em busca do tempo perdido"? Os personagens de Proust discutem essa história que estava sendo apresentada sob forma de peça teatral, na época em Paris. Fiquei feliz de saber de uma nova publicação em português. Vou comprar certamente. Obrigada pela ótima resenha.

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