[Resenha] A Estrangeira

A Estrangeira - O Quarteto do Norte vol I

Autora: Chirlei Wandekoken

Editora: Pedrazul

340 páginas

Sabe aquela leitura que você estava querendo ler há tempos e quando finalmente lê fica mais do que apaixonada, pois então, foi assim com A Estrangeira. Quando iniciei a parceria com a Pedrazul Editora a primeira coisa que me veio em mente foi ler este livro. Isso porque minha amiga Cailes do Blog Histórias Literárias sempre falou muito bem sobre esse romance e sobre a escrita envolvente da autora, portanto estava mais do que empolgada e curiosa para conhecer a trama.

A Estrangeira é um romance histórico, ambientado principalmente na Inglaterra, que tem como protagonistas o Conde de Northumberland também conhecido como o conde Hotspur e a misteriosa estrangeira Eliza Schumacher. Hotspur é chamado de volta a Alnwick Castle que fica no extremo norte da Inglaterra com intuito de receber e proteger a estrangeira que tinha parentesco com o fiel escudeiro de seu pai. O que o conde não esperava era ficar fascinado pela moça e intrigado pelos segredos que ela esconde. A história se passa em 1830, mas a narrativa é intercalada com uma trama que se passa há 442 anos antes com intuito de retratar a vida do ancestral do conde, cujo nome e aparência eram bem semelhantes do atual mocinho, Sir. Henry Percy também apelidado como “Hotspur”, o segundo conde de Northumberland e seu romance com uma moça chamada Mary Evans.

“[...] uma estrangeira tão bonita quanto intrigante, que se escondia quando se percebia apreciada.”

"Era a vida pulsando dentro dela, lembrando-a de que o amor circundava-a como um cheiro suave. Nada podia ser como antes, algo mudara repentinamente, mas de maneira indelével; e seus planos tomaram outro rumo."

“Se não fossem os olhos verdes que saltavam expressivos, ora com ternura, ora com desejo, ora irônicos, pareceria um homem frio. Mas, aqueles olhos davam vida a ele e essa vida descerrava em seus lábios, ora num sorriso cálido, em certas ocasiões, ora atraente e envolvente, em outras. E, às vezes, em sonoras e irônicas gargalhadas que enchiam qualquer ambiente de vida. Do conde Hotspur podia-se esperar fogo, paixão.“

“O desejo, a paixão, o anseio do mais puro ardor não passam de instintos, nada têm de herança. Eliza, cuja natureza apaixonada fora despertada pelo conde, lutava para contê-la. Não o faria, certamente, se soubesse que as ofertas, raras, dessa pura atração não são comuns e nada têm de vulgar. E que aquela que experimentava, em particular, não se desgastaria.”

Um dos pontos que mais me chamou atenção é que a autora traz muitas referências históricas tantos de lugares como de pessoas e inicia seus capítulos com lindas citações de autores como George Elliot, Thomas Hardy, Jane Austen, Emily Bronte, entre outros. Vou deixar aqui embaixo algumas dessas citações que a autora utilizou e que foram minhas favoritas:

“Era o toque de imperfeição sobre a quase perfeição que lhe conferia a doçura, pois era aquilo que lhe dava sua humanidade.” HARDY, Thomas, Tess dos d’Urbervilles. Cap. 24.

“Pense num dia qualquer e o subtraia, e veja que, sem ele, sua vida teria um rumo inteiramente diferente. Faça uma pausa, você que lê estas palavras, e, por um momento, pense na imensa corrente de ferro ou de ouro, de espinhos ou flores, que talvez jamais o tivesse encadeado, não fosse a formação do primeiro elo de um dia memorável.” DICKENS, Charles, Grandes Esperanças.

“O passado se esquece ante as felizes perspectivas do que virá a ocorrer.” AUSTEN, Jane, Emma.

“Qualquer covarde pode lutar uma batalha quando ele tem certeza de que vai vencê-la; mas dê-me o homem que tem coragem para lutar quando ele tem certeza de que vai perder. Há muitas vitórias pior do que a derrota.” ELIOT, George. O Arrependimento de Janet, adaptado.

“O coração humano tem tesouros ocultos, no segredo mantido, no silêncio selado... os pensamentos, as esperanças, os sonhos, os prazeres... cujo charme se romperia se revelado.” BRONTË, Charlotte, Jane Eyre.

“(...) Não existe felicidade nem infelicidade neste mundo, existe apenas a comparação de um estado com o outro e nada mais. Só aquele que experimentou o extremo infortúnio se encontra apto a experimentar a extrema felicidade. É necessário ter querido morrer para saber como é bom viver.” DUMAS, Alexandre, O Conde de Monte Cristo.

O livro apresenta notas de referência de todas as citações como também explicações e curiosidades sobre algum lugar ou costume da época, o que orienta o leitor durante a leitura. Esse foi um aspecto que gostei bastante porque leitor consegue compreender melhor aquela época e o modo de vida daquela sociedade.

O romance retrata muitos acontecimentos e personagens que de fato existiram. Dentre eles está a rivalidade entre o clã Percy e clã Douglas e a famosa Batalha de Otterbourne que são encontrados em sites e livros de história para quem tem interesse (assim como eu) de se aprofundar melhor no universo criado pela autora. Eu, como amante de História, adoro quando o autor utiliza como pano de fundo fatos reais, adoro pesquisar, ver pinturas ou fotos dos lugares e das pessoas que existiram, acho isso fantástico, fico em êxtase, é como dar doce na mão de criança. Portanto, já antecipo que em breve terá um post especial sobre algumas curiosidades deste livro.

Batalha Otterbourne (1388).

 Miniature from Jean Froissart, Chroniques . Fonte Wikipedia

Alnwick Castle, fonte Wikipedia

“Às vezes, só nos damos conta que fomos longe demais quando nos perdemos pelo caminho.”

“[...] conheci o amor (sei que queima como fogo, dói, pelo menos foi assim comigo), embora as pessoas amem de formas diferentes.”

“Como eu mesma sofri há poucos anos nas mãos da requintada sociedade de Londres, que podia ser sedutora, mas também muito cruel! Os olhares que me estendem, agora cheios de admiração ou inveja, outrora eram velados. Deles saíam chispas de desprezo e ódio. Das bocas mais elegantes de Londres, o mais brutal veneno escorria.”

"Pior que sofrer é ter que dissimular alegria perante os outros. Quem nos dera poder padecer sem ter que fingir, como sorrir quando se deseja chorar, falar mansamente quando se deseja gritar, estagnar quando se deseja correr..."

“[...] há folhas e folhas. Algumas, depois de trituradas, amassadas, derretem e fazem bem ao solo, viram adubo; outras, embora moídas, fazem mal à terra. Eu, decerto, sou como a última. Mas, nada de autocomiseração. Apenas colhi o que plantei.”

Outro aspecto muito bem trabalhado pela autora foi a construção de suas personagens, tanto protagonistas como secundários, todos são cativantes, verossímeis e possuem algum segredo para contar, o que instiga a curiosidade do leitor a querer conhecer mais sobre suas personagens. Eu confesso que me apaixonei por todos e estou curiosíssima para ler suas histórias, porque siiiim, algumas delas serão reveladas em outros volumes. O livro A Estrangeira é o primeiro da série "O Quarteto do Norte", seguido por "A Ama Inglesa", "Um Cocheiro em Paris" e "Fronteira da Paz". Além dos romances históricos Chirlei escreveu dois romances contemporâneos, cujos enredos se passam no Brasil: "Por Trás da Escuridão" e "O Vento de Piedade".

"Duas forças são verdades inquestionáveis assim como o amor e o ódio, o anseio pelo proibido e a vingança. Um e outro são sentimentos poderosos, de inigualável complexidade e a junção quase sempre desastrosa."

“A beleza... a bondade... a juventude... Tudo com o tempo se esvai, como o fumo delével. Na curta passagem da vida, confundem-se à distância todos os traços, os que marcam os caminhos da alegria, como os que vêm da tristeza... A saudade do passado é o nevoeiro que envolve tudo na mesma claridade enganadora e opaca...”

“Às vezes, a vida nos aplica lições para nos ensinar a nunca dizer jamais. Ninguém conhece o que se passa na mente e no coração do outro, nem nós mesmos sabemos que reação teremos diante das insondáveis surpresas dessa vida. Não nos conhecemos, meu filho. Mudamos o tempo todo, a vida nos muda, por isso é impossível nos conhecermos por completo”.

“Ah se os homens soubessem que as palavras têm mais poder do que o toque!”

“[...] nunca se esqueça de que o coração da mulher é impenetrável... que não escolhemos por quem nos apaixonamos... que cada alma possui as suas próprias necessidades.”

Não posso deixar de mencionar que o desfecho do livro me pegou de surpresa, pois além de trabalhar o mistério e romance, a autora também inseriu ação em sua trama, o que resultou em um mix de emoções, fiquei aflita, emocionada, angustiada, aliviada.... o romance me envolveu por completo. A Estrangeira é um romance arrebatador, com uma história intrigante, recheada mistérios e segredos bombásticos. Chirlei Wandekoken apresenta uma escrita fluida, com um conteúdo rico e uma narrativa envolvente. Super recomendo!!

Eloise G.F

Este livro respondeu o segundo item do #RomancedeÉpoca12Meses: Com mistério e investigação.