[Resenha] O Poço e o Pêndulo (Conto)


O Poço e o Pêndulo (conto)
Autor: Edgar Allan Poe
Editora: Darkside
#12mesesdepoe

O conto retrata a história de um homem que foi julgado, condenado e consequentemente aprisionado em um calabouço, onde sofre torturas físicas e psicológicas. Narrado em primeira pessoa, a história passa-se no período da Inquisição. O prisioneiro/narrador descreve o local que se encontra e as surpresas que surgem em seu caminho, além de se questionar e supor as intenções de seus captadores.

“A agonia do suspense por fim se tornou intolerável, e avancei com muita cautela, mantendo os braços esticados e os olhos arregalados. Consegui assim dar vários passos, mas não havia nada além da escuridão e do vazio.”


Em um primeiro momento, o narrador se encontra numa sala escura que apresenta uma armadilha no centro: um Poço. Ele só percebe a existência do poço após tentar andar pela sala escura com a intenção de medir o espaço em que se encontrava, entretanto em seu caminho o prisioneiro quase cai na armadilha para uma queda dolorosa e mortal. Logo, percebe-se que os Inquisidores estão observando seus passos e movimentos, pois o alimento e água que lhe servem contêm alguma substância que o faz cair em um sono profundo.

“[...] as altas velas reduziram-se a nada, extinguindo suas chamas por completo, e sobreveio o negrume da escuridão; todas as sensações pareciam tragadas em uma louca descida da alma para o reino de Hades. O universo converteu-se em silêncio, quietude e noite. ”


“Estava imerso nas trevas de uma noite eterna. O ar me escapou. A intensidade da escuridão parecia me esmagar e sufocar. A atmosfera era de um confinamento intolerável. ”

O narrador continua nas mãos dos inquisidores e ao acordar está deitado e amarrado numa cama sobre a qual se encontra um Pêndulo de metal em formato de uma lâmina. O pêndulo encontra-se bem distante de seu corpo, porém a medida que o tempo passa ele cai lentamente em direção do prisioneiro. Em minha opinião, essa é a pior armadilha e a mais angustiante. Apenas um dos braços do prisioneiro está solto para poder pegar comida em um prato próximo da cama, mas para dificultar a situação, a sala está repleta de ratos que também tentam tirar proveito de sua comida.

“A morte da qual acabara de escapar era típica das que costumava considerar fantasiosas e frívolas nas histórias que contavam sobre a Inquisição. Havia, para as vítimas de sua tirania, a alternativa de optar por uma morte com as piores agonias físicas ou uma morte com seus piores horrores morais. Eu estava destinado à segunda.”


“Ao descobrirem que evitei a queda, já não cultivavam o plano demoníaco de me atirar ao abismo; assim (na falta de outra alternativa), uma morte diferente e mais suave me esperava. Mais suave! Cheguei a esboçar um sorriso em meio à agonia, diante do emprego de tal palavra.”

O ponto principal da história é a sobrevivência da personagem. O prisioneiro sabe de sua culpa e compreende que o que o destino lhe reserva é mais nada do que a morte, porém ao longo do conto ele fica num impasse entre o ato de sobrevier e o ato de se render, afinal mesmo que ele se libertasse de uma armadilha, outra estaria por vir. E esse sentimento, essa aflição é transmitida ao leitor. A todo momento eu me perguntava como seria seu fim e ao mesmo tempo tinha esperanças que o prisioneiro conseguisse de fato algum tipo de libertação. Apesar de ser narrado em primeira pessoa, a presença dos Inquisidores o vigiando é notável. Mesmo que eles só falem com o prisioneiro, de fato, no início, o leitor sente a presença deles e sua aura torturadora durante todo o conto.

“Tomado por um louco desespero, esforçava-me para erguer o pescoço e ir de encontro ao oscilar da tenebrosa cimitarra. Então, acalmei-me de repente e me pus a contemplar, com um sorriso, a morte cintilante – como uma criança diante de um brinquedo raro.”

“Para a direita, para a esquerda em um amplo movimento – e o som que produzia parecia o grito lancinante de uma alma condenada ao inferno [...]” 


“Era a esperança que estremecia meus nervos – que fazia o corpo inteiro encolher. Era a esperança – a esperança que triunfa em meio ao sofrimento – que sussurra nos ouvidos dos condenados à morte, até mesmo nas masmorras da Inquisição.”


Apesar de ser uma história curtinha não vou expor o final, mas podem acreditar que o desfecho é surpreendente. O que mais me encanta nos contos de Poe, principalmente estes que abordam suspense e terror psicológico, é como ele consegue mexer com as emoções do leitor em tão poucas páginas (na edição da Darkside esse conto tem apenas 17 páginas). A narrativa em primeira pessoa é espetacular e bem detalhada, não é o primeiro conto dele que me sinto imersa pela narrativa e envolvida pelos mesmos sentimentos do protagonista. Medo, aflição, desespero, esperança, estratégia, sobrevivência... são algumas das palavras que descrevem esse conto. Super recomendo!

Eloise G.F


Um comentário

Topo