[Resenha] Deuses Americanos


O livro tem como protagonista Shadow, um presidiário que, dias antes de sair da cadeia, perde sua esposa e melhor amigo em um acidente de carro. Ao se tornar um homem livre, sem emprego e sem família, Shadow se depara com o misterioso Sr. Wednesday que, depois de conversar e insistir muito, convence Shadow de trabalhar para ele como seu guarda costas. Porém, o protagonista não faz muita ideia do que se trata o trabalho, mas como precisa de dinheiro e não tem para onde ir acaba aceitando o serviço e segue caminho ao lado desse estranho senhor que fede a trapaça. Shadow é um homem grande, cara de poucos amigos (apesar de sempre ficar muito na dele) e tem a habilidade de fazer truques com moedas. Juntos, eles viajam por todo os Estados Unidos. No caminho, Shadow conhece pessoas estranhas e vivencia situações muito suspeitas. É nítido desde o começo que Wednesday não é uma pessoa muito normal e muito menos seus amigos, e aos poucos dá-se a entender que o protagonista está trabalhando e lidando com seres poderosos, que existem e vivem naquela terra há muitos anos - embora Shadow demore um pouquinho, um tiquinhuzinhu para compreender isso, na verdade, em alguns momentos acho que ele até entende sim o que está acontecendo, mas fica de boa com tudo porque né, afinal a vida dele tá uma merda mesmo.


“Eu sinto como se estivesse em um mundo com uma lógica própria. Com suas próprias regras. É como quando estamos em um sonho e sabemos que há regras que não devem ser quebradas, mas não sabemos quais são nem o que significam. Não tenho a menor ideia do que estamos falando, nem do que aconteceu hoje, nem de quase nada do que aconteceu desde que saí da cadeia. Só estou seguindo o fluxo, sabe?” 

O principal objetivo do Sr. Wednesday é de reunir os antigos deuses (mitologia antiga) para combater os novos deuses, relacionados a vida moderna e a tecnologia (internet, mídia e etc). Na verdade, esse é o principal tema do livro, pois os acontecimentos giram em torno desse conflito. A premissa do romance é que a existência de deuses e seres mitológicos está atribuída a crença das pessoas nessas criaturas e entidades. O livro é dividido entre a história central (viagem de Shadow e o Sr. Wednesday em busca de recrutamento para o grande combate que se espera) e contos que retratam a vinda de imigrantes aos Estados Unidos (pessoas que levaram consigo espíritos e deuses através de suas crenças). Ou seja, é relatado como os deuses e entidades surgiram na terra americana e como também eles foram esquecidos e consequentemente substituídos. O poder desses seres mitológicos diminuiu, pois as pessoas deixaram de acreditar neles, contudo passaram a acreditar em novos deuses. Essa foi uma ótima forma de pontuar e criticar a obsessão dos americanos (e claro, podemos ampliar esse pensamento para o mundo todo) pela tecnologia, internet, redes sociais, drogas e entre outros.

“Diga a ele que nós reprogramamos a porra da realidade. Diga que a língua é um vírus, que a religião é um sistema operacional, que as orações são só uma porrada de spam.”


“Deuses morrem. E, quando morrem para sempre, não há luto nem memória. É mais difícil matar uma ideia do que uma pessoa, mas, no fim das contas, ideias também podem morrer.” 

Minha opinião? Foi maravilhoso embarcar nessa viagem. Bom, sou suspeita a falar, pois eu adoro os EUA, tenho imenso sonho de viajar e visitar esse país, mas tipo, viajar de verdade, pegar estrada no estilo Dean e Sam Winchester (mas sem os fantasmas e aquelas coisas toda claro) e conhecer muitos estados. É realmente um sentimento muito pessoal que tenho desde criança. Quero deixar claro que não desprezo nosso país nem nada, e há outros lugares por aqui e outros países que também gostaria de conhecer, porém, os EUA sempre foi o lugar que mais me chamou atenção e agradeço a Neil Gaiman por ter me disponibilizado essa viagem através desse livro, porque sério, foi incrível!

“Guerras são travadas o tempo todo, e o mundo exterior ignora a existência delas: a guerra contra o crime, a guerra contra a pobreza, a guerra contra as drogas. Esta guerra era menor do que as outras, e mais vasta, e mais seletiva, mas era tão real quanto qualquer outra. ” 

   
“Acredito que a vida é um jogo, a vida é uma piada de mau gosto e a vida é o que acontece quando a gente está vivo e que o melhor é relaxar e aproveitar. ”


“Certamente não é tarde demais para ir para o lado que está ganhando. Mas, sabe, você também tem o direito de ficar exatamente onde está. Isso que é ser americano. Esse é o milagre da América. Afinal, liberdade de credo significa liberdade para acreditar no que é errado. Assim como liberdade de expressão lhe dá o direito de ficar calado. ” 


“[...] Jesus só prometeu lugar no paraíso para um único cara, pelo menos pessoalmente. Não foi Pedro, nem Paulo, nenhum daqueles homens. Era um ladrão condenado, bem na hora da execução. Então não despreze as pessoas que estão no corredor da morte. Talvez elas saibam de algo que você não sabe." 

A leitura, apesar de ser bem longa, é fluida e intrigante. Neil Gaiman me impressiona a cada livro lido. É notável como esse autor consegue transitar de infantil, juvenil à adulto sem perder sua essência. O romance é uma mistura de fantasia com vertentes da mitologia antiga e moderna, narrada em terceira pessoa. Com exceção dos contos, tudo gira em torno de Shadow, fato que achei bem interessante, pois eu não costumo a curtir histórias focadas em apenas uma pessoa, porém a trama foi tão bem construída e o protagonista passa por tantos cenários e situações diferentes que não tenho que reclamar. Gaiman nos prende nessa leitura do início ao fim, uma história original, criativa e repleta de mensagens e reflexões sobre a forma que vivemos hoje em dia. Super recomendo!


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Neil Gaiman escreveu este livro durante viagens que ele fazia pelos EUA, viagens de carro mesmo, pegando ruas secundárias tentando seguir trajetos que seu personagem faria. Na introdução desta edição, ele explica que quis mostrar lugares que o encantam e que quase nunca aparecem ou são cortadas dos filmes e séries americanas. E eu achei isso fascinante, pois só me instigou ainda mais a querer fazer uma viagem como essa um dia. Apesar de ser um livro de ficção, alguns lugares retratados no romance existem de fato, e o meu lugar preferido com certeza é House On The Rock. Segue algumas fotos desse lugar excêntrico e maravilhoso!

    Fotos: https://www.thehouseontherock.com








Eloise G.F


3 comentários

  1. Nossa Elo eu também anseio em ir para os Estados Unidos, queria muito morar lá, mas tem algumas coisas pequenas que me prendem no brasil, fazer o que nê!

    Fique muito interessada no livro e no enredo, leitura deve ser gratificante e rica.

    Parabéns pela resenha amei e as fotos lindas como sempre.

    Um grande beijo.

    sussurrandosonhos.blogspot.com.br/

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    1. Eu tinha sonhos de morar lá também, mas me contento apenas em fazer viagens, acho que deve ser muito difícil se mudar para outro país :/ Só iria se tivesse alguém por lá ou algum emprego certo e tal.

      O livro é espetacular e sim a leitura é muito rica e fluida, vale a pena conferir.

      Feliz que tenha gostado da resenha! Muito Obrigada querida!!!!
      Bjuuuusss!

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  2. Oi Eloise! Aaaaaah também achei maravilhoso embarcar nessa aventura. Quando comecei a ler, não sabia absolutamente nada sobre a história, não li sinopse nem nada, então foi tudo uma surpresa. E o plot twist? Hahaha. Adorei a sua resenha, me fez lembrar das sensações que senti quando li o livro, e recomendo FORTEMENTE a HQ que a Intrínseca lançou recentemente. Não tinha visto as fotos de House On The Rock, caramba! Amei!!!. E sobre a série, serião que mudaram tanto assim? -.- espero assistir em breve.

    Beijos,
    http://abducaoliteraria.com.br

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